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Carta deixada por Conrad a seu sobrinho Benjamin, dias antes de encontrar Allan:
 

14/03/2013, Bayville, USA.

 

Benny, eu fui preso. Tente contactar ao seu pai, pois ele não atende as minhas ligações. Preciso do diário de Tiago comigo. Há coisas estranhas acontecendo nesta prisão. Logo eu serei executado na cadeira elétrica, em uma semana. Eu preciso desse diário antes de me levarem à sentença. É urgente. As coisas não estão boas.

 

Ass: Conrad.

 

 A MALDIÇÃO DE HENRY 

1X01 - CONRAD:

 

NA SEMANA ANTERIOR

 

Conrad olhava o relógio que parecia uma eternidade para mudar os ponteiros, esperando aqueles homens resolverem falar com ele. Paciência era o que não o faltava, mas o que estava perturbando era a agonia de não saber o que havia feito para estar ali agora. O que ele fez, meu Deus? Estava há três horas sentado naquela cadeira, algemado na cintura, nos pulsos e nos tornozelos, com a algema dos pulsos o mantendo preso à mesa em sua frente, onde devia estar algum policial, mas não havia ninguém. Ele estava sozinho naquele cubo pequeno e cheio de espelhos. Seus olhos pesavam de sono, havia três dias sem dormir. Mas, tomou susto com o estrondo, quando a porta abriu e um homem engravatado entrou.

- Sou Agente James Gilardino, estou com o FBI. Você sabe por que está aqui, frei Conrad?

- Não. – Respondeu objetivo.

- Você lembra de ter chegado aqui?

- Não.

- Claro que não, e sabe por quê? Porque você estava inconsciente ao lado de sua décima terceira vítima, depois de ter ingerido uma garrafa inteira de cachaça.

- Desculpa, o quê? – Ele franziu a testa, confuso. – Espere aí, eu nem bebo! Décima terceira vítima?

- Não se faça de desentendido. Ou você deve estar um pouco esquecido mesmo. Quem sabe assim você lembra.

 

O homem coolocou em cima da mesa a caixa que ele estava trazendo consigo e tirou de lá arquivos, começou a espalhar as fotos em cima da mesa, viradas para Conrad. O franciscano entendeu claramente agora do que se tratava. Sim, ele se lembrava daqueles rostos. Eram vampiros e lobisomens que ele havia caçado nos últimos meses, desde quando se mudou para Bayville. Ele havia matado todos aqueles sim. Mas matar vampiros que tentam sugar seu sangue e lobisomens que tentam comer sua carne não se chamava assassinato, se chamava legítima defesa para ele. No fim, depois de olhar bastante as fotos, o FBI moreno ergueu os olhos verdes para ele.

- Está lembrado agora?

- Sim. – Não conseguiria mentir. – Foi legítima defesa. Eles tentaram me atacar.

O agente riu de desgosto.

- Todas essas pessoas? Tentaram te atacar? Nos quatro cantos da cidade? Não há nenhuma conexão entre elas que prove que eram do mesmo grupo, padre e você as decaptou e queimou o corpo com intervalos de semanas.

- Eu não sei como te explicar isso.

- Ótimo que você não sabe, porque não tem explicação. Assim como não tem explicação para as covas que você abriu e depois destruiu os corpos. Mas nós temos uma teoria. Você é um sádico sexual, já foi classificado como serial killer e tem um tesão arrepiante por cadáver e você vai passar o resto da semana na cadeia.

- Eu não matei ninguém! – Sobressaltou. – Serial k… SERIAL KILLER?

- Escuta, eu vou facilitar pra você. Se você confessar o crime, sua pena pode diminuir.

Conrad só ficou o olhando, calado.

- Tudo bem, não quer confessar para mim… Vai confessar para o agente Kat.

 

O italiano fechou os olhos, rezando. Iam chamar um grandalhão para bater nele até ele confessar os “crimes”. Se surpreendeu, no entanto, quando o mesmo agente voltou, com um gato nos braços. Isso só podia ser brincadeira com ele. O gato foi colocado na sua frente, O GATO TINHA GRAVATA!

- Santa Maria, mãe de Deus… - Ficou olhando o gato e o gato olhando para ele.

O agente James saiu da sala e o deixou com aquele gato preto e branco de olhos amarelos. Gatos eram animais interessantes… Meio no mundo dos vivos, meio no mundo dos mortos. Mas aquilo era alguma brincadeira? Parecia que não, porque os minutos passavam e ele percebeu que não conseguia tirar os olhos do gato. E o gato não desviava o olhar do seu. Começou a crescer aquela agonia, aquele silêncio perturbador, como se o gato estivesse comendo suas vísceras só com o olhar. Olhou para os lados, procurou se soltar as algemas, mas não teve outra. Quando não aguentou mais a pressão, o gato deu um susto nele, um miado horripilante.

- TUDO BEM, TUDO BEM! – Gritava para os outros ouvirem do lado de fora. – TIREM ESSE… ESSE… TIREM ELE DE PERTO DE MIM, EU ADMITO! EU MATEI, EU INVADI CAIXÕES, ROUBEI AS JÓIAS, EU ADMITO!!!

 

ATUALMENTE:

 

“Sétimo dia na penintenciária de Bayville. A scoisas andam estranhas aqui. Parece que há algo muito ruim rondando o lugar. Ás 19 em ponto, as luzes falham constantemente e permanecem nesse curto circuito até as 23h. Depois de algumas semanas, essas noites estranhas começaram a coincidir com colegas meus de corredor morrendo. Parece suicídio, é como se de repente eles enlouquecessem e cortassem os próprios pulsos ou se enforcassem. Para mim, parece possessão. Estou sem meus pertences aqui e não posso investigar. Espero que você receba minha carta e me ajude. Eles me condenaram, eu estou no corredor da morte. Pode ser que seja o único jeito de sair daqui, mas eu não quero experimentar a cadeira elétrica antes de saber o que está acontecendo.

Apareça.

 

Pe.Conrad di Offida.”

 

Mal havia acabado de deixar a caixa no correio e ouvia um homem resmungando atrás de si. Assim que ele deu espaço, o grandalhão tatuado colocou sua cartinha no correio também.

- Hoje é meu dia, mas não vou poder me despedir da família. Vou comer um mc lanche feliz na minha última ceia numa jaula de merda e só posso me despedir com essa carta.

- Eu sou padre e hoje também é minha última ceia… Quer que eu te acompanhe? Eu posso te ouvir antes de partir.

- Eu não acredito nessas coisas. Se Deus existisse… Eu não estaria aqui. Tudo por causa daquele gato.

Conrad franziu o cenho.

- Você também foi interrogado pelo gato?!

- Bizarro, não? Gato maldito… Sei lá, aquele silêncio pesado, aquele olhar perturbador e penetrante… Eu não aguentei, fiquei desesperado. Nem tinha cometido nada, quem fez a merda foi meu primo. Não acredito que confessei tudo por causa de um gato.

- Nem me diga. – Ele fez careta de dor.

 

Devia ter acrescentado a presença escrota do gato para a carta de Tiago, mas apostou que nem ele ia levar aquilo a sério, parecia mesmo brincadeira. Tinha visto de tudo na vida, menos um gato policial que sabia persuadir as pessoas a confessarem crimes que não cometeram.

- Bem, eu não sei você… Mas eu quero um padre. –Confessou, se afastando do homem.

 

Ele precisava de alguém que pelo menos acreditasse no que ele iria contar. Ele precisava que alguém de fora fossem seus braços e pernas para resolver o assunto. Pediu então o padre para os policiais e, enquanto o sujeito não chegava, ele comia sua última ceia. Eram 18h… Ele seria levado para a cadeira elétrica meia noite. Depois de comer o sanduiche ruim da Mc Donalds (não leve a mal, mas italiano sempre prefere uma comida caseira), enquanto olhava o brinquedinho, rezou, agredecendo mais uma vez a Deus pelo alimento dado. Tomou a coca cola e guardou o saquinho de sal no bolso do macacão de penintenciário que vestia, enquanto esperava. Logo viu um vulto caminhar pelo corredor. Era o padre. Podia confiar nele? Era sua última esperança. E naquele exato momento, quando o homem estava atravessando o corredor acompanhado pelos policiais, as luzes começaram a piscar. Era agora.

 

1x02 - ALLAN:

 

"Bem-aventurado o homem que não anda segundo o conselho dos ímpios, nem se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores. Antes tem o seu prazer na lei do SENHOR, e na sua lei medita de dia e de noite. Pois será como a árvore plantada junto a ribeiros de águas, a qual dá o seu fruto no seu tempo; as suas folhas não cairão, e tudo quanto fizer prosperará. Não são assim os ímpios; mas são como a moinha que o vento espalha. Por isso os ímpios não subsistirão no juízo, nem os pecadores na congregação dos justos. Porque o SENHOR conhece o caminho dos justos; porém o caminho dos ímpios perecerá" Salmos 1:1-6

 

Uma chuva fina caia naquele fim de tarde. Os fiéis estavam lá, atentos e esperançosos. Eu terminara de citar um dos Salmos daquele dia e dei um minuto de silêncio para que todos refletissem sobre  aquela parte da Palavra. Meus olhos elevaram-se para o grandes castiçais e assim, para as vidraças molhadas pela chuva. Eu sorri. Mais um dia chegava ao seu fim e eu havia aproveitado da melhor forma, ensinando aos outros o que eu sabia. E depois daquele momento de paz, despejei minhas palavras de conhecimento sobre os ouvintes. Eraincrível como eles saiam satisfeitos depois de toda minha explicação. Assim, eu podia entender que muitos deles não entendiam o que a palavra diz. No entanto também não posso afirmar com convicção que interpreto-a de forma correta... enfim, três senhoras me barraram na saída da Igreja. A primeira me convidou para  uma janta em sua casa na terça-feira. Aceitei, alias não tinha planos para aquela noite. As outras duas, apenas queriam discutir o que Deus havia as dito naquela tarde. Fiquei uns vinte minutos conversando com elas as compreendendo. Quando vi, o céu já estava escuro. Elas se despediram e seguiram para o estacionamento, abrindo seus guarda-chuvas apressadas. 

 

Eu me virei e adentrei a Igreja. Iria até a sacristia buscar minhas coisas, a chave de carro e um casaco. Não senti a presença de ninguém ali... mas subitamente ouvi um barulho semelhante a quando se passa as unhas em um lousa. Tapei os ouvidos e me encostei na parede, faltava apenas alguns passos para chegar ao local que queria. Um arrepio estranho subiu por meu corpo e respirei fundo, segurando em um reflexo o crucifixo que levava no pescoço. Infelizmente para o meu dom, não existia uma forma de controlar. Aquelas vozes conhecidas sussurraram sombrias em minha cabeça, então eu comecei a rezar. Aquilo sempre era presságio de algo ruim. Meu coração disparou. Minha respiração ficou acelerada...

 

- Allan! - Martin gritou meu nome da sacristia. Abri meus olhos e fitei-o assustado. - O que está fazendo ai, irmão?  - Ele se aproximou de me mim, franzindo o cenho. Fiquei sem jeito, tentava ser o mais normal o possível. Mas as vezes, tudo saia do controle.

- Eu... eu estava indo pegar minhas coisas, vou pra casa. 

- Ah sim, ótima missa. Aqui fica cada vez mais cheio, você percebeu? - Eu não estava realmente prestando atenção na conversa do padre. Minha cabeça ainda estava leve e vazia, e as vezes eu parecia não estar em mim. é difícil de explicar...

- Obrigado, Martin. - Sorri forçado, abrindo o armário aonde estavam as minhas coisas. Achei que ele já ia, mas não.

- Ah! estava quase me esquecendo... arrumaram um serviço pra você na cadeia amanhã a tarde. - Arregalei os olhos, quase torcendo os lábios.

-Na cadeia? amanhã? ahn... e o que seria? 

- Bem, você vai ter que dar a santa extrema-unção para alguns presos que vão para cadeira elétrica. - Até ele torceu os lábios.

Suspirei mostrando uma expressão seriamente desapontada. Essa não era o melhor trabalho a se fazer e eu era meio extremista. Todos merecem o perdão do Senhor, mas muitos ali nem querem aceitar que Ele existe. Porém, não era minha função discutir isso... aposto que o meu único olhar disse isso a Martin. O mulato entre abriu os lábios, com quem quer dizer algumas palavras de conforto. Fiz um ar de riso, rodando a chave do carro nos dedos

- Tudo bem Martin, eu faço isso. Aposto que você já passou por isso. - O homem mostrou um sorriso amarelo e quase tentou dizer alguma coisa, eu só dei as costas pra ele ainda sorrindo, falsamente. Queria sair dali o mais rápido possível. Eu sabia que aquele padre havia jogado esse fardo para minhas costas... eu sempre sei. Terrível.

 

O outro dia começou estranho. Uma leve dor de cabeça me atrapalhava e durante alguns segundos, eu juro que sumi enquanto ouvia a confissão matinal da Sr. Joss. E depois dela, mais algumas pessoas ainda confessaram as coisas mais absurdas. Em um momento tivesse que me segurar para não rir de uma jovem garota que confessava um palavrão que havia dito, semanas atrás. Isso não é pecado... oh, Deus. Era porque eu estava mal. E a hora do almoço foi uma benção para mim. Fui até um restaurante, ali perto da igreja mesmo. Pra variar a missa das 15h, era pra mim. Mas a esse horário, depois de ter uma conversa despreocupante e simpática com o senhor da limpeza, aquela dorzinha de cabeça passou. É entranho... já tive impressão de ter visto assas nesse homem. A missa foi ótima. Meu humor havia mudado da água para o vinho. Eu sai dali para a sala aonde se encontravam as minhas coisa e quando coloquei a mão no armário, a imagem da cadeia veio a minha cabeça. Eu havia me esquecido... teria de estar lá quase ao anoitecer. Olhei no relógio, eram quase 17h. Levei a mão têmpora, aquela dor havia voltado. Mordi o lábio e peguei meu casaco, as chaves e fui para o carro. 

 

O tempo não estava bom. Alguns relâmpagos apareciam no céu de vez enquando. A qualquer instante a chuva iria cair grossa e sem piedade. Não demorei mais do que uns trinta minutos para chegar. Estacionei o Porche negro em alguma vaga. Desci correndo e atravessei a rua, adentrando o local. A chuva caiu. Era uma chuva de vento forte, que assobiava nas janelas vez ou outra. Me abracei, olhando o local, procurando por alguém que me atendesse. Um policial apareceu. Não trocamos muitas palavras ele apenas pediu para que eu o seguisse... Entramos em um corredor.

- O senhor vai falar agora com... - E mexeu em umpequeno papel amaçado. - Conrad, hehe. - E me olhou com um sorriso sacana. Andamos mais alguns passos, já eram 18:15. Eu ouvi um grito, baixo... mas não me alterei. Olhei para os lados e quando percebi estávamos na frente da cela do homem. O policial abriu a cela e as luzes começaram a piscar. Droga. Luzes piscando... coisa boa não é. Respirei fundo e entrei ali, fingindo que não me importava com isso. Estendi a mão para cumprimentar o detento- Boa... noite. Sou Allan. E você, é Conrad, estou certo? - Forcei um sorriso de lábios colados e dei umaolhada rápida na luz que piscava intensamente em cima de nossas cabeças. Acabei sussurrando sem querer - Isso não é bom... - Era óbvio quealgo estava prestes a acontecer.

 

 

1x03 - CONRAD:

 

Os olhos embebedavam-se, meio piscando meio abertos, quando o trovão forte que estremeceu o lugar fez o corpo do detento pular de susto na cama e quase cair no chão. Ele tremeu, abrindo bem os olhos, acordando. Caramba... Quanto tempo tinha até um padre vir dar sua extrema unção? E se não desse tempo? E se ele fosse o próximo?

- Per Dio, io non voglio essere seppellito dinuovo... (Por Deus, eu não quero ser enterrado de novo). Ficou alerta aos movimentos do lugar. De repente, percebeu que de sua respiração descompassada, um vapor saía de suas narinas. A cela havia ficado de repente bastante fria. Fria o suficiente para aparecer o vapor de sua respiração frente ao rosto.

 

Levantou-se, alerta, incomodado. Os pacotes dacomida ainda estavam ali, ninguém havia ido recolher seu Mc Lanche Feliz. No momento que ouviu os passos do padre, as luzes começaram a piscar, a lamparina bem acima de sua cabeça. Não dava para mentir, nem se ele quisesse. O padre entrou como se nada estivesse acontecendo e estendeu a mão, gentil. Dava para ver nos olhos de Conrad que, para o franciscano, não havia nada bem com nada. Nada além de transparência daquela preocupação. Mas, estendeu a mão, apertando a dele.

- Na paz do Senhor, irmão. – Soltou a mão dele episcou de novo, olhando a lâmpada que falhava. – É... Sou Conrad di Offida. Muito prazer, Allan. Veio me dar extrema unção, ahm? – Tentou puxar conversa antes de dizer por que havia chamado ele de verdade.

 

E não é que o rapaz lhe passou confiança? BastouAllan olhar incomodado a luz e falar aquilo “isso não é bom...”. O mais velho engoliu seco, aquele medo estampado nos olhos.

- Não, não é. – Esperou o Padre olhar pra elepara murmurar, baixo. – Alguém vai morrer hoje.

Allan ao falar só aquela frase parecia saberexatamente do que estava acontecendo. A preocupação no tom de voz, o incômodo. Isso o aliviou, não era daqueles padres que sequer acreditavam de verdade em Deus e só estavam ali por dinheiro. Não era daqueles que até acreditavam, mas acreditavam nas coisas como toda a criança ingênua acredita. O rapaz tinha conhecimento de algo. Talvez tivesse visto alguma coisa nos seus dias de experiência. Talvez fosse um caçador. Incomodado com o frio, esfregou os próprios braços, indo até a grade da cela e se encostando.

- Eu não me importo de ir pra a cadeiraelétrica, Padre Allan. Mas parece que tem alguém aqui acelerando as coisas. Você acredita em mim. Não é qualquer um. Tem algo que você sabe. Eu não sei o quê. Mas não é do tipo que me chamaria de louco. – Cruzou os braços. – São 5 mortos até agora, nas últimas duas semanas. Eu não posso fazer muita coisa porque pegaram todos os meus pertences, mas alguém de fora... – Ele foi interrompido quando a luz apagou.

 

Não viu mais Padre Allan na sua frente, era tudoescuridão em volta. O coração acelerou, olhando para os lados. Colocou a mão para dentro do macacão laranja de presidiário e segurou os símbolos pendurados no pescoço, o pentagrama, o Ankh, a cruz. Tudo ficou muito quieto e ele não ousou abrir a boca, queria escutar.

Relembre tudo o quefez...

 

Não, Conrad não escutava nada, nem uma singelapalavra, para ele era tudo silêncio mórbido e frio arrepiante. Olhou para trás e não viu nada além do brêu de um corredor escuro, com um rasgo fino de luz vindo da rua, numa janelinha, iluminando fracamente só parte do chão. Outro frio lhe correu pela espinha, mais sopros sem sentido em seu rosto, o ar gelado.

 

Você nunca vai voltar para casa...

 

Verme imundo, nenhum de vocês merecempiedade.

 

- Sanctus, Sanctus, Sanctus Dominus Deus Sabaoth... (Santo, Santo, Santo é o Senhor, Deus de Poder e Força). – Mal começou a proferir as palavras em latim, sentiu aquele impacto em suas costas que fez o corpo voar, violentamente, jogado contra o corpo de Allan e arremeçando os dois contra as mesinha de madeira da cela, estraçalhando a madeira podre, Conrad batendo a cabeça contra a parede de concreto. Agora ele vinha, parecia um homem. Um doutor. Estava de jaleco. Ou ele estava delirando? Em segundos, a imagem desapareceu e reapareceu, em sua frente, sem dar tempo dele pensar num método de se proteger. Pegar o sal e jogar contra o espírito, qualquer coisa. Os dedos do espectro já penetravam em sua carne e pareciam esmagar seu coração por dentro. Ele não conseguia respirar, a dor crescente e insuportável. Estava tendo um infarto.

 

Quando ele desapareceu.

 

- AAARR!! – Puxou o ar com força, colocando amão no peito, o coração batendo descompassado. Mas a luz não havia voltado. Sem pensar duas vezes, pegou o padre do seu lado pela gola da batina e puxou consigo, tentando abrir a cela. A luz voltava, quase o cegando, mas piscando constantemente. Um grito apavorado de outro detento encheu o corredor.

- AAAAAAAH NÃÃÃÃO!!!! SOCORRO!!! POLICIAIS!!!NÃO, SAI DAQUI, NÃO, NÃO, NÃO!!!

- Per Dio, ele vai morrer, me ajuda, Allan! –Tentava abrir a grade desesperado, forçando a porta automática, usando o máximo de sua força pra tentar abrí-la sem o motor. Não era trancada, era um portão elétrico, fechava com a pressão de um controle remoto e abria do mesmo jeito.

- AAAAHHH!! EU ODEIO VOCÊS! VERMES IMUNDOSMERECEM TODOS MORRER! NUNCA MAIS VOLTARÃO PRA CASA, NUNCA MAIS VÃO VER SUAS FAMÍLIAS! VÃO SE LEMBRAR PARA SEMPRE DO QUE FIZERAM! – Gritava o louco no fundo do corredor, desesperado. O franciscano parou de forçar a porta para procurar algum fio elétrico, algum dispositivo que a desligasse do controle. Devia estar ali, em algum lugar.

 

1x04 - ALLAN:

 

Não estávamos sozinhos, na verdade. Disso eu sabia, de alguma forma, sabia. Mas ao tocar a mão gelada do franciscano, tive plena certeza. Os olhos dele mostravam medo e não piedade; ele estava nos seus últimos minutos e o estranho, eu nem mesmo sabia o porquê. Por que um padre pegou uma pena de morte? a coisas que não fazem sentido. Foi o que pensei rapidamente antes de soltar a mão do homem. Ele havia ouvido meu murmuro. Então arregalei os olhos e ouvi com atenção o que ele me dizia. Aquele pisca-pisca da luz, estava me deixando tenso, cada vez mais tenso. Levei a mão até o colar de prata que contia o simbolo de proteção, ante possessão, que havia ganhado depois da última vez que isso havia acontecido comigo. Prestei atenção nas palavras dele, mas também observei o corredor. Alguns policiais ainda conversavam. Então ele o respondeu

 

- Eu compreendo Conrad e o melhor, eu acredito em você. - Olhava a face apavorada do homem. - Mas o problema é que não temos nada pra detê-lo aqui, acho que teremos que violar as regras... - torceu os lábios, nãoparecendo incomodado com fato de ter que bater em alguns policiais. Segurou na grade da porta e olhou lá fora, dizendo sua última frase antes de tudo se tornar apenas trevas - Eu também ajudo as pessoas... - Pronto. O padre não podia ver mais nada. O silêncio parecia eterno, ele apenas podia ouvir a respiração do outro. Mas havia um terceiro ali... aquele lugar frio, aquele pequena luz no chão... Allan sentia uma presença perto de si, como se quase o tocasse. Mas de repente, sentiu o peso do homem sobre si. Conrad caiu sobre uma mesa de madeira e Allan foi direto para a parede de concreto. Bateu o ombro e escorregou para o chão, ainda cego por conta daquela escuridão tremenda. Ouviu as palavras do espírito, tomado pelo ódio e rancor, pronto pra acabar com alguém da pior forma possível. Além de todo aquele alvoroço, em sua cabeça, passava-se alguns flashs, imagens de nomes e o rosto do homem, que agora podia ser visto por ambos, mas não nitidamente. 

 

Conrad estava sendo atacado. Aquela pessoa estava o matando e o jovem padre não podia fazer nada. Mas se levantou, com dificuldade pra poder ajudá-lo de qualquer forma. O homem gritou, Allan se aproximou dele, ajudando-o a levantar - Vamos sair daqui! fica difícil lutar com isso sem as armasnecessárias, você está bem?! - pergunta besta para o momento,provavelmente não, claro. Outro grito e frases, ele estava matando um dos detentos. O franciscano agarrou a porta de grades e a forçou, o padre foi ajudar. Mas ela nem ao menos se movia. Arfou cansado, colocando o braço sobre os olhos claros quando a luz voltou. O detendo gritava desesperado, estava morrendo. Ofegante, enquanto o outro tentava arranjar um jeito de de abrir aquilo, Allan pegou um pedaço de madeira que estava no chão e a meteu sobre o motor com toda a força que tinha, quebrando-o um pouco. - Agorapuxe! - Agarrou as grades novamente e então o portão começou a abrir,deixando uma fresta de tamanho certo pra que o outro padre passasse -Vamos logo, saia! - gritou segurando a porta com toda a força quetinha. No entanto já era tarde, o gritos cessaram. Os policiais estavam assustados, correram todos, pareciam confusos. Allan caiu no chão, tonto e cansado. A luz balançava devagar. Acho que... - passou a mãosobre seu pescoço, seu colar não estava ali.

 

Arregalou os olhos, sentindo uma pressão contra o peito. - Aaah... -foi puxado por uma força invisível e arremessado contra a parede, mas ao invés de cair com força contra o chão, ficou pregado ali durando alguns segundos. Então caiu, aparentemente desmaiado. A luz parou de piscar. O padre Conrad podia ouvir bem baixo, alguns sussurros. Algo em latim. Allan abriu os olhos e levantou o tronco, ainda com os olhos fitados nos chão -Conrad, seu verme imundo... eu vou acabar com você como fiz com aquele idiota... - Não era a voz de Allan. Infelizmente aquele espírito haviatomado o corpo do jovem. Seu colar de proteção, que havia saído durante durante toda confusão, estava encostado perto da parede ao lado esquerdo. Allan se levantou por fim, fitando-o nos olhos, que eram azuis, agora estavam levemente verdes claros. - Não seja covarde... entre aqui, seu filho de uma puta. 

 

1x05 - CONRAD:

 

“Eu compreendo, padre, e o melhor, eu acredito em você”.

 

Conrad ficou aliviado ao ouvir aquelas palavras. Sabia que o rapaz ali presente acreditaria nele, porque ambos estavam usando praticamente os mesmos símbolos anti-possessão no pescoço como colares. Isso queria dizer que padre Allan sabia de tantas coisas quanto ele. Por isso confessou o que estava acontecendo e o motivo por tê-lo chamado. Não queria absolvição. Ele não poderia tê-la, já que era um devorador de pecados* e da mesma forma, também não podia morrer, embora ainda houvessem chances – milhares delas – de alguém deixa-lo aleijado ou em coma, ou sem alma, ou qualquer coisa mais macabra do que a própria morte. Mas, isso ele não iria contar para o rapaz. Não, até para coisas estranhas a cabeça das pessoas tem limite.

- Bem... Eu só não quebro as regras de Deus, com as dos humanos eu não me importo. – Confessou, tão delinquente quanto o amigo. Se tivessem de deixar alguns policiais inconscientes e fugirem da prisão, ele estava mais do que ansioso. É verdade o que Allan falava, eles não tinham armas. – Mas pelo menos eu tenho isso aqui. – Tirou do bolso do macacão amarelo os saquinhos de sal que sempre vinham naqueles Mc Lanches. Pelo menos era alguma coisa. Guardou de volta os saquinhos e foi quando tudo virou brêu.

A voz de Allan ecôou sozinha no silêncio e no vazio: “Eu também ajudo pessoas”. Conrad ficou na dúvida do que ele queria dizer com isso. Era um caçador? Ou um exorcizador? Não teve tempo de perguntar, porque agora o espírito o jogava contra o padre e a mesa, estraçalhando-a com seu corpo no chão. Arregalou os olhos quando seu coração foi esmagado pela mão invisível do espírito, que se afugentou quando Allan se aproximou, ajudando o padre a levantar. O italiano puxava o ar para os pulmões de vez, olhando para o americano com os dois olhos esbugalhados, concordando com a cabeça.

- Eu... Bem... Estou bem... – Estava bem só se fosse no quinto dos infernos. Tossia, quase derrubando o outro de novo ao se levantar e correu alucinado para a grade, para tentar abri-la, quando começou a ouvir o grito do outro detento, que estava morrendo naquele momento.

 

Aquela porcaria não abria. Ele já estava sem saber o que fazer quando viu Padre Allan pegar a perna de madeira da mesa estraçalhada e quebrar o motor da grade. Besta fera, por que não pensou nisso antes?! Não tinha tempo de auto-lamentar, então puxou a grade com força, abrindo finalmente a porta.

- URRF! Okay, vamos. – Nem precisou Allan dizer pra ele sair, o franciscano já estava correndo pelo corredor, à procura do local dos gritos. Então tudo parou. Ele estancou no meio do corredor quando percebeu que as luzes acenderam. Silêncio novamente. Um policial no corredor, confuso, percebeu que ele estava fora da cela.

- Hey! – O policial pegava seu walk-talk para chamar os outros, tão apavorado que sequer raciocinava no que estava fazendo.

- Não, eu posso explic... Allan? – Olhou para trás quando ouviu um gemido. Quando voltou para a porta da cela, viu o rapaz grudado na parede sob uma força sobrenatural. – Ah, não... – Deu mais um passo e o viu cair no chão, desmaiado. Jesus... Pensou se aproximar, quando viu aquele corpo se erguer de modo sobrenatural. E antes, havia escutado algo? Em alguma língua conhecida, mas não conseguiu parar e pensar qual seria ela... Porque agora o padre estava o olhando com fúria, de pé. Não eram os olhos dele, nem era a voz dele. Ele estava possuído.

 

“Conrad, seu verme imundo... Eu vou acabar com você como fiz com aquele idiota... Não seja covarde... Entre aqui, seu filho de uma puta.”

 

O franciscano ficou um tempo parado, fora de sua cela, parado na porta. Tinha que pensar rápido.

- Você não vai conseguir sair daí, não é? – Provocava o espírito, mas ao mesmo tempo só estava pensando alto. – Quer dizer, é fácil quando se pode passar por entre as grades, mas nesse corpo... Não dá... – E deu uma cutucada no portão. – Ferro puro.

Tutti Bene, pensou, o que estava para fazer era suicídio e homicídio, mas não tinha outra escolha.

- Scusa, padre Allan.

Pobre Padre Allan... Conrad se meteu dentro da cela e fechou o portão, enjaulando o espírito, o padre e ele ali dentro. Sabia que a grade não abriria enquanto o espírito estivesse ali, porque aqueles malditos tinham uma força e uma mania sobrenatural de manter pessoas trancadas. Nem um trator derrubaria o portão. Agora o caso era com os três e ele tinha que resolver isso antes que a polícia chegasse.

-Exorcizamus-te, omnisimmundus spiritus, omnis satânica potestas...– Ele estava chutando, essa era averdade, porque aquele era um ritual de exorcismos para demônios, ele não sabia se ia funcionar com um fantasma zangado de alguém. Eram quase a mesma coisa, mas ainda tinha diferença.

Como adivinhado, não funcionou. Mas lhe deu tempo de pensar em outra coisa.

- Tudo bem. – Suspirou. – Se é assim... Vai ter que ser como nos velhos tempos.

Antes que o espíritopudesse pensar ele se jogou em cima do corpo do padre Allan e lhe meteu um soco atrás do outro na cara, começando a lutar com o negócio maligno que estava dentro dele. Claro que a alma era mais forte, que o nocauteava de volta. Rolou para o lado da cama e conseguiu alcançar a perna de madeira da mesa, a mesma que haviam usado pra abrir o portão, rosnou, usou toda a força para meter uma porrada de vez na nuca do infeliz. Mas quem disse que isso ia apagar o espírito?

- Maledeto... – Levantava cambaleando do chão evoltava a lutar com o rapaz, dessa vez o pressionando contra o chão com uma mão no pescoço, puxando do bolso o saquinho de sal e abrindo com os dentes num rasgão só, forçando-o a abrir a boca e metendo saquinho com sal e tudo dentro, tapando com a própria mão para que o espírito não expelisse. Se tinha alguém que ia sair dali, era ele, por bem ou por mal.

***

- É aquele psicopata! Aposto que a culpa é todadele, ele estava fora das grades quando as luzes voltaram! – O policial atordoado chamava os outros, que se armavam, com revólveres e armas de choque e entravam correndo no corredor, na direção da cela onde eles ouviam os gritos de dois homens lutando. – Rápido! Ele está matando o outro padre! ME AJUDEM A ABRIR ESSA DROGA DESSA GRADE!

1x06: - ALLAN:

 

Allan sorriu, mas aquilo não era Allan sorrindo. Ouviu o que o homem dizia sobre as grades de ferro, mas acabou o cortando enquanto o ameaçava - Cale a boca e venha aqui logo, pra que eu acabe com você, seu pecador imundo!  - Andou até as grades, mas antes quepudesse chegar nas grades o outro padre se colocou dentro daquela cela. Então, ele parou. Franziu o cenho. O espírito havia se assombrado com a coragem do outro. - Só pode ser maluco mesmo... padre, você vai apanhar... -foi interrompido pelo ritual de exorcismo que ele tentava. Mas aquilo não daria certo, O que possuía Allan, era um espírito raivoso. Ele ainda não havia passado pelo inferno para que aquilo desse certo. Ele riu, por fim. E riu alto, interrompendo o franciscano - Vai apanhar até morrer,desgraçado! -  e foi pra cima do homem, pronto pra lhe desferirum golpe certeiro na face, porém o outro foi mais rápido.

 

"Allan" caiu no chão, com o nariz cheio de sangue. Mas não afinou, levantando-se no mesmo momento indo direto para agarrar o pescoço do homem com toda a força que tinha, iria estrangulá-lo. Mas de novo, Conrad foi mais esperto. Allan não tinha muita destreza, na realidade, nunca havia lutado de uma forma daquele. Mas ele sabia usar uma arma, então - os olhos azuis fitaram o corredor a procura de alguma coisa, uma arma, que as vezes algum dos policiais poderia ter deixado cair. Mas não foi por muito tempo - Logo sua face era quase quebrada por vários murros, na verdade, uns quatro. E no quinto, "Allan" o empurrou com toda a força que tinha, jogando lá pra perto da cama. Levantou o corpo, mas não ficou em pé, tomando impulso pra poder agarrar as pernas do outro, no entanto, foi quase morto pela paulada que levou na nuca. Estava desfalecido no chão, mas depois de pouco segundos abriu os olhos.

 

O franciscano estava em cima dele, segurando pelo pescoço jogando sal emsua boca. - CONRAD! CONRAD! CHEGA! - agora era voz mansa do padre que falava. Colocou as mãos no peito dele rapidamente, tirando com brutalidade de cima de si. E nesse instante, os dois escutaram os gritos dos policiais que veio do corredor. - Meu... DE...Deus... Conrad! corra,sai daqui agora! senão ele não te pegar! - Advertiu, segurando pelobraço pra que prestasse atenção. A cara do jovem servo de Deus estava lambuzada de sangue e vez ou outra, ele tossia. - Vá! ande! - Empurrouele, tentando se levantar, pra poder chamar a atenção dos policiais.

 

1x07 - CONRAD:

 

Era engraçadoquando o espírito falava pra ele vir logo, e quando ele foi, o negócio se assustava, do tipo “poxa ele veio mesmo”. Mas o que Conrad ia fazer? Precisava salvar a pele do Padre Allan.

- Eu posso ser muita coisa, menos maluco. E eusei que eu vou apanhar. Você já disse antes!

Ora, o espírito ria descrente mas também demaldade, como se estivesse ganhando a sorte do ano. Pior é que poderia estar mesmo. Antes que o miserável o ameaçasse de novo, Conrad partiu pra cima dele, e começaram a brigar. Deu um primeiro soco e logo as mãos do espírito começaram a enforca-lo. O rosto ia ficando vermelho, mas Conrad não podia perder tempo feito besta tentando tirar a mão do infeliz. Começou a socar o rosto do coitado do outro padre, até o espírito larga-lo e jogá-lo para longe com a força sobrenatural que tinha. Parecia procurar alguma coisa. Conrad foi primeiro, pegando a perna da mesa e dando aquela cacetada. Ele pareceu amolecer e ele aproveitou para jogar o sal garganta abaixo do padre possuído, tapando a boca dele para ele não cuspir fora, segurando com a outra mão o pescoço. Ele viu o momento que o espectro saiu, porque Allan despertava, começando a tossir, pedindo pra ele parar.

 

Foi empurrado para longe do rapaz que engasgavaainda e voltou para perto, preocupado. Allan estava ensanguentado.

- Você está bem?!

Ele não teve resposta, porque agora os doisescutavam os gritos dos policiais. Conrad olhou na direção dos gritos e pronto, ficou atordoado. Quando o rapaz pegou seu braço, ele voltou a atenção para ele e o ouviu.

- Correr?! Mas... Mas, mas correr pra onde?!

- Vá! Ande!

CÁSPITA! Levantou-se, abrindo a grade e saindopro corredor de novo... E viu os policiais correndo, e os policiais viram ele.

- ALI, PEGA! CORRE!

Ele se virou e saiu correndo como se seu fôlegonão tivesse fim. Os policiais passavam pela grade, algum deles entraram no local, acudindo Allan, ajudando ele a se levantar.

- Porra, aquele psicopata, a gente devia terficado vigiando vocês dois e não deixado você sozinho com ele! – Os policiais arrastavam Allan dali. – Vamos, rapaz, você precisa ir pra enfermaria.

 

Conrad corria... Corria... Corria... Virando umcorredor e outro... E aos poucos mais policiais foram aparecendo, seguranças que estavam naquele corredor e ao vê-lo passar correndo na carreira resolveram seguir também e atenderam aos pedidos de urgência dos companheiros e “PEGA ELE PORRA!”. Desceu a escada quase capotando ela e finalmente chegou no pátio vazio pelo horário da noite. Entrou pela porta da cozinha e correu pros fundos, onde ficavam os fogões, abrindo a porta para o almoxarifado e se trancando lá dentro. Seu coração batia forte, parecia estar na garganta pulsando, o corpo ia esquentando agora que havia parado de correr, fazendo ele suar. A respiração só não estava ruidosa porque ele tentava controlar ela e tapar a boca com as próprias mãos para não ser ouvido. Seus pulmões estavam queimando.

 

Ele ouviu passos na cozinha, passos que tentavamser silenciosos. Engoliu seco e prendeu a respiração.

- É... Não tá aqui...

- Ele deve ter saído pra a lavanderia. Vamos lá.

Os dois policiais abriram uma porta e sumiram.Conrad esperou um pouco porque podia ser uma armadilha. Ficou contando até sua respiração e seus batimentos voltarem ao normal. Então não estavam mais ali mesmo. Ele foi abrindo devagarinho a porta e se viu sozinho na cozinha. Então aproveitou e saiu em passos rápidos, voltando pelo caminho, mas dessa vez pegando as escadas de incêndio, subindo na direção da enfermaria. O corredor graças a Deus estava vazio. Os policiais que haviam levado Allan já tinham ido embora. Ele caminhou devagar, olhou pela janelinha da porta se o rapaz estava sozinho e entrou, fechando a porta e trancando.

- Eu vou ser morto mesmo. Que droga. – Xingou,desanimado. Ele não aguentava mais ser morto. – Se bem que parece que é o único jeito de sair daqui. – Ele parecia doido ao considerar a hipótese.

 

Então se virou para o rapaz e o viu todomachucado. Fez uma careta, meneando a cabeça.

- Me desculpe! Eu acho que eu exagerei. Mas éque ele estava me enforcando na hora. – Sentava na mesa do médico, olhando atento. – Ele estava dentro de você, tem alguma informação importante que conseguiu pegar? Tipo quem é ele, nome, como morreu...?

 

1x08 - ALLAN:

 

Sentiu náusease a dor em seu rosto e nuca eram insuportáveis. Queria gritar para ver se acalmava um pouco, pois cenas da morte daquele espírito passavam por sua cabeça, como um filme de terror feio. Quando viu que Conrad correu, rezou em seu intimo para que ele achasse uma  saída. O homem era um guerreiro de Deus, daqueles que passam  um perrengue atrás do outro para salvar vidas. Tudo rodou, o padre apenas viu os policiais, que lhe falavam algo– Me ajud... dem.– Foi as últimas coisas que conseguiu falar. Acordou já na enfermaria.  Estava com soro no braço e já haviam limpado o sangue de seu rosto. Olhou para os lados, levando a mão livre até p rosto  – Deus me ajude...– não conseguia selembrar a última vez que tinha ficado tão machucado daquela forma, talvez quando foi possuído por um gangster alemão, que queria matar metade de seus amigos. Balançou a cabeça, lembrando-se do franciscano.

 

Pediu a Deus que ele tivesse conseguido escapar, não ouviu mais nada. Segurou o pedestal que mantinha o soro perto dele e andou até a porta, para ver se ouvia alguma coisa. Tudo era silêncio... apenas sua respiração era ouvida tão próxima de si. Respirou fundo, por mais difícil de fosse isso, estava sentindo um bocado de dor, mas o remédio já estava fazendo efeito. Afastou-se da porta e então sentiu um arrepio– Oraessa, de

novo não...– Levou a mão nopescoço desesperado, não estava com seu colar. Tinha que busca-lo  imediatamente, antes que aquele espírito o possuísse de novo.  Sentiu aquele arrepio mais forte e correu para a cama, sentando-se ali e começou a rezar. Sentiu que estava sendo tomado por algo mais forte que ele, então rezava cada vez mais alto. – A porta se abriu – Allan assustou-se e olhou direto pra ela. Era o padre, que alivio. De alguma forma a presença dele havia assustado o espírito. –Conrad! Graças a Deus! Antes, porque me bateu desse tanto, homem?–não parecia irritado, apenas abalado. Mas logo ele respondeu– Ah, medesculpe... isso vai acontecer de novo se eu não pegar aquele colar!– Alertou o homem parecendo desesperado. Olhou para os lado, pensando em como responder a pergunta dele.– Ele foitorturado antes de ser morto... Hen.. Henry, eu acho, que ele se chamava Henry.– Quando terminou de falar isso um vidro que estava sobre a mesinha de remédios voou na parede. Allan arregalou os olhos e os voltou para o padre– Mas ele não era bom, maltratavaos presidiários, tinha raiva deles. Eles o mataram com um tiro na cabeça. Acho que ele era o médico daqui.– Engoliu seco. – O quevamos fazer? Temos que manda-lo pra longe daqui.  – Sentiu aquelacoisa estranha de novo e se levantou– Vamos sairdaqui, agora. 

 

1x09 - CONRAD:

 

–Conrad! Graças a Deus! Antes,porque me bateu desse tanto, homem?

Quando o franciscano parou e olhou o pobrepadre, sentiu algo ruim no estômago de tanto pesar. Só agora via o estrago que havia feito. Céus! O rapaz estava acabado! Franziu a testa de remorso.

- Scusa... Desculpa de verdade. Eu... Nãopercebi. Mas acredite, mesmo assim, o espírito quase levantava novamente e me batia, se eu não tivesse colocado sal em sua boca. – E após ter falado isso concluiu que tanta porrada que meteu no padre Allan não adiantou nada, já que o que colocaria o espírito fora seria o sal. Sentiu-se pior ao pensar nisso.

 

Mas pelo menos ele sentia que agora aquele bichoia pensar duas vezes antes se meter com ele. E quando o rapaz alertou sobre o colar, Conrad tirou um do pescoço, que ele usava, e entregou para Allan. Era um Ankh.

- Tome, eu tenho mais três aqui no pescoço. –Ele era paranoico, isso já foi falado aqui? Por isso entregou mais outro e cada um ficou com dois. Entregou o pentagrama. – Tome esse também. – Ele mesmo se aproximou e ajudou o rapaz debilitado a colocar aquilo pela cabeça no pescoço.

 

Então ouvia a história do fantasma. Ficouchateado ao ouvir o nome. Droga, Henry era o nome de seu cartão de crédito! Olhou para trás por cima do ombro quando viu o vidro voar e bater na parede. O Henry estava os escutando. Ouviu que ele era médico, e que foi morto pelos presos que ele tanto maltratava.

- O único jeito é... – Parou de falar ao lembrarque o espírito estava ali ouvindo.

Allan estava muito nervoso. Conrad o olhouatento, compreensivo e pegou o cabo do soro e um dos cotovelos do rapaz. – Vamos, vamos sair daqui.

 

Quando abriu a porta, falou correndo os olhospara todos os cantos da sala.

- Henry, você não pode nos machucar. – Disse. –Não somos presidiários, esse padre é um homem bom que só veio fazer o dever dele, portanto não faz o seu tipo. E além disso... Não está no seu horário. – Lembrou o fantasma que ele só matava pessoas às 19h da noite e já passavam de meia noite depois de tanta coisa. Falou isso e bateu a porta. Mal bateu a porta e ouviu um monte de coisa quebrando dentro da sala.

- Droga, esse descontrolado vai armar contra agente. – Resmungou, ajudando o padre Allan a acelerar os passos pelo corredor.

 

- Como eu ia dizendo... O único jeito... Éacharmos onde ele foi enterrado e queimarmos os restos mortais dele. Dessa forma, não tem nada que o prenda no mundo dos vivos. Capicce? Mas vamos achar um carro primeiro... E te conduzir pra um hospital. – Abria a porta da escada, ajudando com cuidado o rapaz a descer com ele, na direção da garagem. Tinha que levar aquele soro junto e esse era o problema. Mas ao chegar no outro corredor, ao abrir a porta da escada, estancou e deu ré, puxando bruscamente Allan junto.

Era justamente o médico do local que estava ali, estacionando o carro,daqueles carros que parecem uma ambulância, quadrados e altos, mas no fundo normalmente só tem as coisas que o pessoal costuma colocar, malas, etc, e não toda a aparelhagem que uma ambulância teria.

 

- Jesus Cristo me perdoe... – Ele disse baixo. Olhou para o rapaz com“está pensando no que eu estou pensando?” e deixou Allan ali por alguns segundos, correndo na direção do doutor, que pegava suas malas de medicamentos e vacinas no porta malas do carro.

 

A luta foi bastante rápida. Pelo menos na perspectiva de Allan. Ele só pôde ver Conrad pulando nas costas do outro homem, e os dois caindo pra dentro do porta-malas do carro. O carro sacudia, dava para ouvir uns barulhos de algo batendo em algo, de coisa quebrando, as malas voando pra fora do carro... Depois tudo ficou quieto. Conrad saiu dali, com a roupa do médico, todo de branco e fechou porta-malas. Ficou um tempo ofegando, olhando pra o carro fechado e depois e curvou, enfiando as mãos no meio das pernas, com uma dor homérica NAQUELE local e capotando de vez no chão, gemendo em italiano.

 

1x10 - ALLAN:

 

Aqueles calafrios cessaram quando,por Deus do céu, o franciscano deu um de seus colares pra ele. Sentiu-se aliviado, mas ainda cheio de dor e tontura, sua cabeça não estava legal. Sabia que aquele espírito estava sedento por sangue, ainda em vida, era quase um psicopata - Ele era muito mal pelo que eu vi, gostava de maltratar ematar os presos... que coisa terrível. - Abaixou o olhar, pensativo.Sentia o estômago embrulhar só de imaginar como aquele homem sofreu e fez sofrer. Depois, prestou atenção em Conrad, ele parecia ter um plano. Olhou para os lados, não seria sensato falar tudo ali. 

 

Levantou-se então com dificuldade,suas costas doeram e ele gemeu - Maldito dia... ai! - começoua andar o mais rápido que podia quando o outro abriu a porta e o auxilou pelo corredor. As coisas se quebravam dentro da enfermaria, como se estivesse ocorrendo uma guerra ali. Allan engoliu seco, aquele gosto salgado de sangue na boca, estava pra vomitar. E agulha repuxava dentro de seu braço - Ah,droga! acho melhor eu arrancar isso aqui! - mas ai ele calou paraprestar atenção no homem. Balançou a cabeça em positivo - Vamos fazerisso, o mais rápido possível, porque se ele arrumar outro médium, estamos ferrados. Pelo que me lembro ele quer acabar com você de  um jeitinho particular... - Fez cara de nojo, apertando os olhos por causa da dore o frio que a noite trazia.

 

Conrad se soltou dele, o padre seequilibrou aos poucos. E ai ouviu a pequena luta, sem entender o porque, estava meio voado por causa da dor. Ouviu uns sussurros estranho vindo do corredor... virou o rosto, o corredor escuro estava acesso e as luzes piscavam incessantemente. - Eu acho que é bom corrermos... ele não estárespeitando esse maldito horário. - Criou coragem e arrancou o soro,espirrando sangue no chão. Apertou os lábios e ai viu o outro recontorcendo-se de dor no chão. Correu, segurando - Esse cara te acertou em cheio,hein?  - O Ajudou a levantar com dificuldade considerável por seuestado- Acho que não é hora de reclamar de dor, Conrad! - Arregalouos olhos, quando só ele viu a aparição demoníaca do médico psicopata vindo em direção a eles cheio de raiva. Soltou Conrad no chão e se jogou para o lado, num tentativa de desviar do pior.

 

- Ele quer nos acertar de todo jeito... maldição... -seus olhos lacrimejaram sultimente, a dor estava quase insuportável. Mesmo assim se levantou e correu para o carro, ciente de que Conrad faria o mesmo. Fechou a porta e trancou, esperando e quando ele entrou, olhou-o ofegante -Melhor você acelerar antes que ele vire esse carro! - Estava assustadoporque via tudo, de momento em momento, aquele espírito ruim aparecia possesso de raiva. - Não vou pro hospital, você precisa de toda a ajuda quepuder ter... e infelizmente, sou só eu. - Falou aquilo, colocando osinto, quando sentia o carro sair em toda a velocidade.

 

1x11 - CONRAD:

 

Conrad estava com pena deAllan, era verdade, mas nada podia fazer além de ser a volição do grupo, de forçar ambos a continuar e não deixar aquele espírito perturbado ganhar deles. Ouvia mais sobre Henry.

- Ótimo... Temos um psicopata morto atrás de nós, que maravilhoso! – Argumentou, inconformado.

 

Enquanto ajudava o irmão a descer as escadas, virou o rosto para dar atenção às palavras que dizia.

- Calma... Fratello, calma! – Exaltava quando o via puxando aquelas agulhas de vez do corpo, derramando sangue. – Per Dio, assim vai se machucar!

 

E ao mesmo tempo que estava preocupado, sentia-se apressado, agoniado para sair dali. Olhou-o novamente para ouvir que o bravo Henry estava pronto para uma vingança particular. Pela cara de ânsia de vômito que Allan fez, ele arregalou os olhos – várias coisas passaram em sua cabeça, coisas horríveis – mas, não teve coragem de perguntar ao amigo o que exatamente era. Só arregalou os olhos, virou novamente o rosto para frente e voltou a caminhar.

 

Então, deixou Allan encostado à parede por um instante e foi brigar com o médico. Conseguiu colocar a roupa de médico e trancar o verdadeiro nos fundos da van, mas caiu clamando de dor por seus bagos assassinados. Ficou aéreo por segundos, quando sentiu as mãos de Allan tentando levantá-lo e despertou do transe, levando as mãos à van e levantando cambaleante, dispensando a ajuda do padre, não por ser desconsideração, mas porque o rapaz não merecia se esforçar, já estava fraco, sofrido.

 

“Esse cara te acertou em cheio, hein?”

Conrad pigarreou, atordoado.

- Eu estou... bem... Eu estou bem, vamos embora.

Ele não era de reclamar de dor, mas, qual é! Ele não era eunuco apesar de cumprir celibato. Ai, minhas bolas! Lamentava mentalmente enquanto mancava na direção da porta do motorista, apoiando-se nas laterais de metal do veículo.

- Não me ajude, homem, entre no carro! – Disse meio nervoso, na tentativa de se soltar do rapaz.

 

Foi quando ouviu e viu pelo canto do olho uma MOTO sendo arremessada na direção deles. Só assim para Allan soltar Conrad e desviar, deixando o franciscano cair no chão de joelhos. A motocicleta batia violentamente contra a van, amassando a sua lateral de metal e caindo do lado deles.

“Ele quer nos acertar de qualquer jeito, maldição!”

O coração do italiano estava saindo pela boca, ainda de susto.

- Eu percebi! – Levantou-se, esquecendo a dor nas partes e olhou para todos os lados.

 

Ao contrário de Allan, ele não via a aparição demoníaca do médico. Não via nada e não sabia onde ele estava!

- Maledire (maldição). – Sua atenção foi chamada pelo irmão de novo.

 

Ele esperou Allan correr e entrar no carro para abrir a porta e sentar no banco do lado, do motorista. Ouvia que era melhor acelerar. Concordou com a cabeça em silêncio, nervoso, e quando olhou pelo retrovisor, conseguiu enxergar a imagem de Henry atrás do carro, olhando para eles.

- Cáspita, ele está ali atrás! – Sem mais delongas, acelerou fundo, correndo pela garagem e o fantasma correndo atrás deles.

O verdadeiromédico gritava no fundo da van e dava para ouív-lo, mesmo o som abafado.

- SOCORROOOOO!! ALGUÉM ME AJUDEEEE!! ALGUÉM METIRE DAQUIII!!

- Tudo bem! – Sua voz sobressaiu-se dos gritosdo terceiro. – Se não quer médico, vamos primeiro passar em minha casa, é seguro lá e é perto do cemitério da cidade.

Para Conrad, aquilo significava algo bom, nãosabia se para Allan significava o mesmo. Quando saíram da prisão para a rua, Conrad olhou no retrovisor de novo e viu a figura de Henry parada atrás das grades do local, distanciando-se, à medida que eles se afastavam em velocidade.

 

Isso era ótimo, pensou, quer dizer que estavapreso àquele lugar por algum objeto que continha seus restos mortais. Não iria perseguí-los fora dali.

 

Houve um momento de paz e silêncio no carro, opadre franziu a testa, aliviado, soltando o ar pela boca.

- Cristo... – Lamentou, sentindo aquele remorso,inconformado com o remorso. – Você está todo machucado, é tudo culpa minha, me desculpe! – Dirigia mais devagar, mais calmo, apesar de arrependido. – Foi uma ideia idiota minha querer chamar alguém de fora para me ajudar, eu arrisquei sua vida e ainda te deixei nesse estado... – Olhou um instante para Allan, como se quisesse rever as feridas que deixou no rosto do rapaz e voltou os olhos para a frente, dirigindo, calando-se.

 

Ele estacionou na casa. Era, visivelmente, umacasa abandonada. Ele saltou para fora e ajudou Allan a descer do carro, segurando o rapaz por um cotovelo. O médico não gritava mais dentro da van.

- Vamos entrar primeiro e depois lidamos comele. – Referia-se ao cara que eles praticamente sequestraram.

 

Ao entrar na casa, a primeira coisa que Conradfez foi pegar uma cadeira e arrastar da mesa até perto para Allan sentar. Por dentro, a casa não parecia tão abandonada assim. Conrad tinha a sorte de ter, de vez em quando, uma pessoa que se dispusera a arrumar por dentro. Mas, ainda assim... Aquela sala ampla de estar ao mesmo tempo era sala de jantar, pois tinha mesa com duas cadeiras ali, e sala de estudos, pois tinha outra mesa com vários livros, pergaminhos e outros papéis velhos empilhados em cima, numa desarrumação incompreensível. Também era o quarto, porque colchões estavam espalhados com travesseiros no outro canto, e havia ainda um sofá, no meio de tudo.

 

A casa estava toda pichada por dentro, mas nãoera vandalismo, e sim pintura de símbolos estranhos. Toda a parece, teto e chão estavam pichados por Conrad. Eram símbolos de proteção contra demônios, espíritos, qualquer coisa que quisesse passar. Em cima dos arcos de cada porta e janela haviam fileiras de sal, de modo que abrir as passagens não desmancharia, o que aconteceria caso fosse enfileirado no chão. Haviam buracos nas paredes, claro, afinal a casa era velha. E em cada buraco tinham saquinhos de proteção e purificação, contendo terra de encruzilhada, de cemitério, raiz de angélica e outras coisas.

- Me chame deparanoico, qualquer coisa... Tanto faz. – Comentou, fechando a porta. – Ao menos aqui estamos seguros. Precisamos esperar você se recuperar um pouco e pegar armamento suficiente, fratello.

Ele ainda não havia parado, estava elétrico.Eram 2:00, ele viu ao olhar o relógio pendurado acima do sofá. Não adiantava correrem pra nenhum lugar agora, Allan precisava descansar. Para saber onde Henry estava enterrado, precisariam ir aos cartórios e a essa hora não havia nenhum aberto.

- Eu vou me livrar do médico, fique aqui. – Ditoisso, ele foi até aquela mesa cheia de bagulho de estudo e puxou de lá de baixo uma espingarda.

 

Sim, ele saiu parecendo que ia matar o homem,mas não era isso. Em resumo, ele levou a van para bem longe, na estrada, e ameaçou o homem com a espingarda e mandou ele correr pra longe. O rapaz fugiu apavorado vestindo farda de presidiário. 10 minutos depois, Conrad voltava pra casa, jogando a espingarda no sofá. Ali dentro só tinha bala de sal. Mesmo que ele atirasse, não iria matar.

 

1x12 - ALLAN:

 

Colocou as mãos sobre a cabeça eapertou os olhos,sabia que aquele espírito feio, diga-se de passagem, ia acertar qualquer outra coisa na van. Respirou fundo e foi um pouco para trás, com a aceleração exagerada do homem, que com certeza é o que os salvaria daquele caos. 

 

Ele podia ouvir os sussurros e xingamentosde Henry, ele parecia dentro da cabeça do jovem - AHHH! quemerda! - Acabou explodindo e batendo uma das mãos no vidro. Asterríveis coisas que ele falava pra Allan de alguma forma, estava o deixando louco. Mas quando eles sairão da prisão, tudo silenciou. O mesmo suspirou cansado e gemeu de dor, já que finalmente não estava tão aéreo. Olhou o outro padre, que parecia tão ansioso e instável quanto ele. Mas em momento nenhum ficou parecendo um louco... - Allan balançou a cabeça meio sem jeito e esperava que Conrad o entendesse - Sim, vamos pra suacasa... - Tinha ouvido alguma coisa sobre  casa, enquanto ascoisas se confundiam em sua cabeça. Haviam três vozes ali, a do franciscano, do médico "sequestrado" ao fundo e a do espírito. Mas agora, só ouvia o motor do carro e então, as lamentações do outro pior quase deformado seu rosto - Eu te perdoou, estava tentando melivrar daquele canalha. Fez bem sabe... eu podia ficar possuído até quando Deus quisesse sem a sua ajuda, Conrad. - Disse aquilo com uma certa dor navoz, odiava com todas as suas força aquele dom. Passou a mão sobre o rosto, continuando a falar - Fez muito bem em me chamar, acho que teriamorrido sozinho. Eu não ajudei muito, mas fiz o que pude... sendo possuído. De alguma forma quando ele estava em mim, ficou mais fraco. - Fitou Conrad, tentando sorrir amigável mente, mas seulábio repuxou com dor. Levou os dedos até o mesmo, gemendo baixinho. -Creio em Deus que vamos resolver isso e tomar uma cerveja juntos, moço. -Olhou pela janela, observando a rua deserta e logo a frente, viu a mansão abandonada. 

 

Allan desceu do carro e seguiu-o,meio torto por causa do cansaço e meio tonto, estava todo fudido. Quando entrou no lugar, deu uma olhada geral e não achou nada daquilo estranho ou exagero. Com o que ele trabalhava, não era brincadeira. Viu o mesmo puxando uma cadeira - Obrigado, Deus te abençoe. - Estava precisando mesmoficar sentando. Mexeu o pescoço ouvindo um estralo e franzindo o cenho. Ele dizia que era paranoico, mas não era o que o jovem achava. - Vocêé bem prevenido. Isso sim... - Colocou a mão na têmpora,abaixando a cabeça e fechando os olhos. Viu o homem sair, pra ir resolver o assunto do médico. Viu a espingarda na mão dele e arregalou os olhos. Esperava em Deus que ele não o matasse... acreditou que ele não faria uma coisa dessas. Debruçou-se sobre a mesa, sabia que estava seguro ali. Acabou cochilando, dois minutos até que ouviu Conrad chegando novamente. Despertou, olhando em volta, ainda sentindo muita dor - Será que... você não tem nenhum remédio aquipra dor? misericórdia... - colocou a mão sobre a cabeça. - Sequiser, vamos no cemitério agora. Pra terminar com isso de uma vez. -Falou se levantando, havia se esquecido das palavras do homem, não estava muito bem. Só queria desaparecer com aquele cara de uma vez por todas, pra que as bobagens que ele o disse, também sumissem. 

 

1x13 - CONRAD:

 

“AAAHH, quemerda!!”– Conrad ouviu o grito e a batida no vidro.

Ficou preocupado, aquele espírito devia terdeixado ele realmente traumatizado.

- É, eu sei, mas acho que exagerei... – Comentou,ainda penalizado. Estava compadecido de Allan, totalmente. Queria dar um tempo para ele, ele precisava de um tempo.

 

Conrad não respondeu sobre poder ter morrido nasmãos do fantasma ou na cadeira elétrica. Ele não se importava. O que Allan não sabia é que ele não podia morrer. Deus sempre o trazia de volta – pelo menos era assim que ele pensava. Não importava se arrancassem sua cabeça, se queimassem seu corpo. Em um mês, uma semana a depender do dano, ele estava inteiro novamente. Por isso estava mais preocupado com o irmão, era a ele que o franciscano precisava velar. Ele era mortal, pelo menos era o que Conrad achava, e precisava ser protegido e cuidado.

- Amém. – Disse ao ouvir a benção. Colocou orapaz sentado na cadeira e suspirou. – Não, posso ser prevenido, mas é verdade que esse trabalho deixa a gente paranoico. Bom, eu já volto.

 

Ele saía com a espingarda de sal, de prevençãocomo Allan dizia. Mas percebeu o olhar do rapaz. Ao voltar para a casa, a primeira coisa que disse foi:

- Eu não matei ele. – E percebeu que o rapazestava dormindo na cadeira e havia se assustado com ele falando do nada. – Me dispiace! Fratello, você precisa descansar. Ahm...Aqui, venha...

 

Conrad pegou Allan pelos cotovelos, guiando-ocom cuidado até o sofá, tirando as coisas do lado para o sofá ficar livre e o rapaz poder deitar.

- Não, não vamos no cemitério hoje, olhe comovocê está! – Exclamou. – Eu vou ver se tenho algum remédio... Normalmente eu não tenho, eu não gosto muito de me anestesiar, mas você precisa.

Dito isso, caminhou até a cozinha para procurar.Tudo o que achou foi cataflan e paracetamol. Devia servir. Trazia um copo d’água pra ele e entregava os comprimidos.

- Isso vai te segurar um pouco... Então, quemsabe, não vamos pedir cerveja num bar. – Brincou, dando um sorriso fraco de lábios fechados, afável. – Bem, eu não gosto de beber, mas posso te acompanhar!?

 

Então, aos poucos, o sorriso de Conrad foidesaparecendo, ficando cada vez mais sério, não bravo, mas compenetrado, atento. Tinha o olhar compreensivo. Sabia que Allan não estava bem depois de ter sido possuído por algo tão mau. Percebeu a situação grave pelos gritos que soltou no carro.

-Você... Quer falar sobre isso?

Ele não definiu o que era “isso”, mas pelo tomde voz que usou, Allan poderia adivinhar o que era.

- Ele te fez ver as piores lembranças dele, nãoé? – Explicou melhor, com um ar compreensível, mesmo cansado. – Quanto melhor você colocar para fora, melhor vai conseguir dormir depois. Eu aguento. Pode falar, não tem problema.

 

Tanta coisa ao longo dos anos que o franciscanohavia visto, que nada do que Allan dissesse iria assustá-lo, dificilmente isso iria acontecer. Pegava aquela cadeira que antes havia usado para o padre sentar e foi sua vez de se sentar ali.

1x14 - ALLAN: 

 

A dor era tanto, que vez ou outra,Allan deitava-se sobre a mesa, respirando fundo e rezando baixinho. Foi ai que dormiu, mas logo acordou com o homem falando alto. Na verdade não estava falando alto, mas por estar adormecido, tudo parecia exagerado. Quando a porta se fechou, levou um leve susto e olhou pra ele Um de seus olhos estavam inchados do lado, levou a mão até ali, gemendo - Jesus Cristo... esperoque aquele espírito esteja sentindo algo, porque eu estou. - Falouaquilo meio que brincando, quando sentiu Conrad o pegar pelos cotovelos com cuidado e levá-lo até o sofá. Não pensou duas vezes e deixou o corpo relaxar ali, olhando o teto. Torceu os lábios, queria acabar com aquilo de uma vez por todas. Mas o homem tinha razão, não estava em condições. - Acha que sóqueimando os ossos dele vamos acabar com isso? - Perguntou virando umpouco o rosto para olhá-lo, com um pouco de dificuldade. Então viu que ele se levantava para ir buscar o remédio, pediu a Deus que ele tivesse alguma coisa ali. Não demorou muito e ele já vinha com os comprimidos. Levantou-se um pouco, pegando-os e bebendo rápido. Então apenas se encostou no braço do sofá, sorrindo quando ouviu a história de beber - Ah, eu gosto... mas nãodevia. - Riu fraco, logo fazendo cara de dor e colocando a mão nanuca. 

 

"-Você... Querfalar sobre isso?" - Osolhosdo jovem padre ficaram estáticos. Quando o franciscano o perguntou, todas a piores cenas da vida de Henry vieram a sua cabeça. Apertou os olhos respirando fundo e pode ouvir de novo a voz macabra do espírito falando como um pensamento que não quer sumir. - Ele quer te matar, Conrad. Só porquevocê estava preso lá, acho que não é nada pessoal. - Apertou oslábios, e olhou pra baixo pensativo. Aquela voz foi aumentando, cada vez mais. Então tapou os ouvidos, mas não era como se isso fosse adiantar. Talvez devesse realmente contar tudo pra que aquilo saísse de sua mente. Mas antes, reclamou - Droga, quantos poderes eu podia ter, de cura, de fogo, detelepatia, mas olhe só, tive que sair um médium! - Os olhos tímidosmiraram os do homem, respirou fundo pra começar a falar. - Ele...torturava os presos. Gostava de ver aquilo... se sentia bem vendo isso. Mas é porque o pai dele acabou com ele quando era pequeno. Batia nele, xingava, e... - Desviou o olhar, levando as mãos no rosto machucado,lamentando - Oh meu Deus, porque tanta maldade... - Tirou asmãos do rosto, mas não olhou pro homem. - O pai dele abusou delealgumas vezes, isso está na minha cabeça também. As vezes eu acho que o inferno está vindo pra terra. - Complementou, balançando a cabeçanegativamente. Então virou-se pra ele, ficando frente a frente. Olhou-o nos olhos novamente, deixando que ele visse as lágrimas que surgiam e desciam pela face. Mas ele não parecia chorar - Essas cenas ficam passando, passandoe passando na minha cabeça, como um filme que eu não posso desligar. -Havia muita dor na voz do jovem. - Não acredito que vou conseguirdormir. Não há vozes... e sim cenas. Quando alguma coisa me possui eu passou ter suas lembranças pra sempre. As vezes algumas coisas ou lugares vem como flashs, mas eu nunca estive lá ou fiz aquilo... as vezes não sei o que são minhas lembranças. Se acabarmos com isso de uma vez... terei uma coisa a menos na minha cabeça. - Suspirou ainda com os olhos parados nos deConrad. Depois limpou as lágrimas, voltando a se encostar no sofá. Olhou em volta, cruzando os braços. - Acho que devíamos agir rápido. Antes queeu fique louco... entende. - Fechou os olhos por fim, rezando bembaixo.

 

1x15 - CONRAD:

 

“Jesus Cristo...espero que aquele espírito esteja sentindo algo, porque eu estou.”

 

Aquele comentário fez Conrad dar uma risadaalta, mas depois ajudou o companheiro a se deitar no sofá.

-Acha que só queimando os ossos dele vamos acabar com isso?

- Não sei. – Disse sincero. – Talvez hajam outros restos mortais dele, mas os principais são os ossos, então vamos primeiro por partes. Queimaremos os ossos, depois procuraremos por objetos pessoais dele... Algo me diz que se houver um, está na prisão, porque ele está preso ao objeto, só consegue ir onde ele estiver.

 

Explicava, entregando para o rapaz os remédios eo copo d’água. Ouvia sobre a bebida e sorriu fraco, amigável.

- Não há um versículo da bíblia que fala sobrebeber... Há muitos que falam sobre embriagar-se. Então contanto que você tome cuidado... Eu não vejo problema algum. – Deu os ombros.

Conrad não era um padre convencional. Haviavivido a tempo suficiente para saber que muitos dos dogmas da igreja sequer pertenciam ao cristianismo e foram inventados pelos ministros. Não ligava para aquelas coisas. Não gostava de beber porque não era acostumado, então ficava bêbado fácil... Tampouco simpatizava com o gosto e o cheiro do álcool. Mas quem era ele pra julgar alguém?

 

-Elequer te matar, Conrad. Só porque você estava preso lá, acho que não é nada pessoal.

 

- Eu sei disso. – Disse calmo.

Respeitou o tempo do rapaz. O que importava éque ele colocasse aquilo para fora o quanto antes, para saber lidar com aquela dor. Ficou calado, sério, juntando as mãos com os dedos entrelaçados, os cotovelos em cima dos joelhos, curvado para a frente. Quando ouviu o rapaz reclamar da sua mediunidade, ele espalhou um sorriso de lábios juntos, rindo pelo nariz, silencioso.

- Os dons mais importantes são os maisdesagradáveis. – Isso não serviria de conforto. Queria só dizer que sabia como era. – Eu sei como é ter a pior lembrança dos outros para si. Mas pelo eu sou pago pra isso. – Perturbou, só pra amenizar o clima num tom de zombaria pra o rapaz.

 

Sim, Henry então era um clássico psicopata. Elefoi abusado na infância e depois torturava e abusava homens que pareciam o pai dele. Homens presos, que provavelmente possuem crimes hediondos como estupros, assassinatos... a categoria que Conrad foi encaixado mesmo nunca tendo feito nada daquilo.

- Você consegue contar mais? – Olhou com cuidadopra ele. – Não estou querendo ser curioso, é só que... Às vezes enterrar isso dentro de si, só faz você piorar. O Inferno não veio pra a terra, padre Allan... a terra é a mãe do inferno.

 

Aquilo lhe deu uma sensação triste. Uma dor láno fundo do peito. Não queria dizer isso para ele. Mas os demônios nada mais eram do que pessoas que em sua vida foram tão más, tão más, que se deixaram corromper e, ao serem torturadas no inferno, se transformaram naquelas coisas deformadas, cujo deleite era ver tantos outros sofrendo como eles. O Inferno nasceu através dos pecados dos vivos. Mas ele meneou a cabeça, sacudindo aqueles pensamentos para longe.

Limitou-se em ouvir os desabafos do rapaz sobreas cenas aterrorizantes. Ele sabia como era, isso acontecia com ele toda a vez que devorava o pecado de alguém. Então apertou o ombro do moço, tentando reconforta-lo.

- Não vai morrer. Então é o seguinte. Vou te darum calmante. Vou ao cemitério e queimo os ossos. Amanhã, quando estiver melhor, voltaremos à prisão. – E explicou antes de ser interrompido, possivelmente pela surpresa do padre. – Sim, oras! Se quer garantir que ele estará mesmo morto! Não vou deixar você ser possuído. Ele vai ter que me matar primeiro.

 

Dito isso, levantou, indo na cozinha novamente,e trazendo para Allan uma cartelinha de calmante para que ele pudesse dormir, mesmo que não de modo natural e descansar. Nesse meio tempo, tirou a roupa de médico e vestiu-se como gostava: aaah que saudade de seu velho hábito marrom! Colocou-o no corpo, amarrando a corda grossa no quadril e cobrindo a cabeça com o capuz. Sentou-se novamente na cadeira e passou a rezar baixinho com ele, para ajuda-lo.

- Pater Noster quio est in ceali,

santificetur nomen tuum

Adveniat regnun tuum

Fiat volunctas tua sicut in celo e in terra

 

Pane nostrae quotidianum danobis hodie

e dimite debita nostrae

sicut noi debitamus pecatoribus nostrae

e ne nos inducas in tentazionen

Sed liberta nos a malo.

Amem.

 

Levantou-se, dando uns tapinhas no ombro dele.

- Dorme bene. – Pebou sua bolsa de couro,colocando em cima do ombro e saindo para o cemitério.

 

1x16 - ALLAN:

 

Suspirou. O jovem padre ouvia o que Conrad sabia e ele sabia muito. Se sentiu seguro então, pela primeira vez estava ao lado de um padre que o entendia. Prestava atenção nos ensinamentos simples dele, como sobre a queima dos ossos e sobre a bebida. Sorriu fraco quando ele terminou de falar, desviando o olhar - Eu bebo as vezes, nunca exagerei. - Fez aquele comentário rápido, acabando com um pouco da tensão que aquele momento trouxera. Mas logo, ficou sério voltando a fitar o homem.  Haviacontando tudo que sabia. Todas as lembranças ruins do homem, todas as mortes que fez e a angústia que aquela alma carregava eram tão pesadelos quando as palavras sujas que Henry havia dito. Quando o homem perguntou se Allan tinha algo mais a acrescentar, o jovem sentiu um arrepio estranho e intenso, que aconteceu num segundo. Franziu o cenho e engoliu seco, mas resolveu não comentar aquilo. Olhou para os lados disfarçadamente - Não, eu... só acho que é melhor não ficar pensando muito nisso. Só que se você tiver alguma pergunta específica... eu posso responder. - Conrad o tocou, querendo confortá-lo. Não gostava de contar essas coisas pra ninguém, e talvez tivesse se aberto demais com ele. Ficou um pouco sem jeito. Ouviu a

indagação dele sobre Allan ficar ali, pra descansar . Depois o viu ir até a cozinha e trazer uma cartela de remédios. Os segurou e então insistiu -

Você vai precisar de ajuda, sabe. Sei que deve saber se virar sozinho, mas não queria deixá-lo. - Torceu os lábios se levantando e olhando pela

janela. - Já estou melhor e não quero dormir. As dores estão passando, esse remédios foram bons. - Afastou-se um pouco dele, olhando a roupa diferente que ele havia posto. - Também não quero ficar sozinho aqui, sabe. - Acabou comentando, começando a andar pela sala, olhando os símbolos na parede. Sentiu uma leve tontura e se apoiou na mesa ali perto. Respirou fundo e voltou para sofá, antes que caísse no chão e provocasse mais trabalho para o homem.– Eu...ah, quem estou enganando. Melhor ficar por aqui e não te trazer problemas.– Mostrou umafeição triste e inconformada, queria mesmo ajudarConrad. Essa era sua natureza ajudar e resolver problemas, havia aprendido a ser assim aonde vivia atualmente, a mansão X. Ouviu o padre que começava a rezar, abaixando o olhar, apenas o ouvindo. Ficou olhando ele sair pela porta, tão corajoso como era. Acabou perdendo os sentidos nessa hora.

 

Suarespiração estava alterada quandoacordou. A luz do local machucava suas pupilas. Não sentia dor, mas sim uma raiva e desespero estranho. Levou a mão até o peito, aquilo estrangulava seu coração. Era assim que se sentia pelo menos. Caiu no chão com toda a força da gravidade,

sentiu os ossos de seu cotovelos baterem com toda força. Gemeu baixo e olhou para a porta. Pode perceber rapidamente que Conrad ainda não havia voltado. Desse momento em diante, já não era mais Allan. Levantou-se como se nada estivesse acontecendo. Sorriu de canto, mesmo que isso doesse mais que tudo, para o pobre jovem que estava ali, de alguma forma. Andou pela sala e foi direito até uma gaveta, retirando de lá uma faca afiada. Voltou a andar devagar, sem nenhuma pressa levando a lâmina até a parede coberta de símbolos, cortando a tinta com toda a força que tinha. Rodou aquela sala, olhando o estrago que fazia. Era pouco, mas era alguma coisa. Riu baixo e guardou a arma sobre sua cintura, abaixo da blusa. Ai sim, saiu pela correndo. Sabia que o cemitério era ali perto, por motivos óbvios. Mas comoisso aconteceu? Como Conrad não

percebeu? O fato era que “Henry” era um espírito forte estava influenciando o pobre Allan desde o momento que saíram da prisão. O  influenciou a tirar os colares, depois que o homem saiu para sua missão. Sabia que Allan ainda era fraco e não sabia controlar seus poderes. Enquanto andava rápido pela rua e sentia a brisa cortante daquela noite fria, sussurrou “devia ter tatuado esse símbolo, padre idiota” riu de leve, avistando o portão do cemitério e bem ao fundo, uma lanterna iluminava. Conrad estava ali e tudo que ele tinha que fazer era fingir. Era como um lobo que espreitava sua presa. Deixou o ar sair pela boca, bem visível por conta da baixa temperatura e empurrou o portão, colocando-se dentro do local. De alguma forma, Allan lutava contra aquele controle maligno, mas estava muito debilitado para ter algum sucesso. Em poucos minutos, ele pode ver o capuz marrom do homem e sem pensar falou com a voz mansa e idêntica a do jovem– É, eu vim. Vejo queestá precisando de mim, de alguma forma.–Olhou o tamanho do buraco que ele havia feito para achar os ossos–Hey... como posso ajuda-lo, padre?

 

1x17 - CONRAD:

 

Conrad não queria invadir aintimidade das pessoas daquele jeito. Ele só sabia como era ter lembranças horríveis e não ter ninguém para contar. Mas entendia quando o rapaz queria privacidade, queria se reservar. Não perguntaria mais sobre aquilo, se para ele era melhor esquecer sobre Henry, era melhor deixar assim mesmo.

- Não tenho nenhuma pergunta específica. – Disse baixo, antes de tocá-lo e começarem a rezar.

Quando terminaram as orações, viu o rapaz se levantar do sofá, inconformado.

- Mas, Allan, se sente, homem! – Quem indagou agora foi ele. – Eu trabalho quase sempre sozinho, fratello... Já cansei de abrir cova sozinho... Não vai ser diferente dessa vez. Você precisa descansar porque amanhã de manhã cedo precisaremos voltar para a prisão e vasculhar algum pertence pessoal que Henry ainda tenha lá, para queimar também. Capicce?

 

Mas ele não queria ficar sozinho. O que ele sentia?! Parecia tonto. Conrad levantava da cadeira para ir até o rapaz, ajuda-lo a voltar ao sofá, mas Allan á fazia por si próprio.

- Guardare (preste atenção) você está fraco, porque aquele espírito... Ele fez muita coisa ruim dentro de você. Se você sair daqui, vai ser pior. Acredito que agora estejamos seguros.

 

O que daria de errado? Estavam longe do presídio, estavam numa casa repleta de símbolos que repeliam espíritos de toda a categoria. Mesmo se Henry fosse atrás de Allan, só conseguiria possuí-lo fora daquele lugar. E ainda assim, Conrad não havia lhe emprestado um colar anti-possessão? Com aquelas coisas em sua certeza, ele saiu dessa vez com seu confortável hábito. Adorava ele, era folgado, fresco, deixava-o livre, não apertava como as outras roupas... Bem, isso era só desculpa de alguém que usou aquele traje por séculos.

 

Seguiu até o cemitério, cavando a cova do homem até finalmente achar o caixão. A sete palmos da terra, um monte de terra junta estava do outro lado do buraco. Conrad bateu a pá uma ou duas vezes na tampa do caixão para quebra-la, e estava tão concentrado que sentiu um arrepio estranho nas costas. Estremeceu os ombros de calafrio e virou-se, e tomou um susto ao ver Allan ali de pé, parado.

- Mas... Uomo de Dio, não tínhamos combinado que você iria descansar?!

“É, eu vim. Vejo que está precisando de mim, de alguma forma. Como posso ajuda-lo, padre?”

 

Conrad franziu a testa. Allan estava estranho, estava bem demais. Parecia que os remédios haviam recuperado ele todo e aquelas poucas horas de sono também.

- Você é bem resistente, ahm? Já que está aqui... Pegue mais uma pá e me ajude a quebrar esse caixão, ele é dos bons.

 

A madeira devia ser boa, porque estava difícil de fazer aquilo. Mas, estranhamente, mal o padre Allan se afastou, ea madeira partiu fácil. Conrad devia ter pego de jeito numa parte mais frágil, talvez fosse isso.

- FRATELLO, NÃO PRECISA MAIS! – Gritou para ser escutado, e quando abriu o caixão... – Ma che diavolo... – Franziu a testa.

O caixãoestava vazio. Não havia nada ali. O padre levou a mão aos cabelos, tirando-os da testa e jogando para trás, inconformado. O rosto espantado como se tivesse descoberto a pólvora.

- Fratello, o caixão está vazio!! É isso!! Osossos de Henry devem estar no presídio!!! – Falava animado, como se aquela tivesse sido a maior descoberta do mundo. – Devem ter tirado ele daqui e levado para lá, deve ter sido isso que despertou o espírito!! Precisamos ir voltar mesmo para lá amanhã!! ... – Não ouvia resposta. – Allan?!

 

Conrad começou a olhar em volta de si, girando,procurando o irmão, mesmo que ele não pudesse saber o que estava acontecendo porque não conseguia ver a superfície dentro do buraco. Era um silêncio total, nem as árvores se mexiam.

- Allan, está aí?! Aconteceu alguma coisa?! –Talvez ele tivesse passado mal. Então começou a escalar para sair do buraco, deixando a pá lá dentro e apoiando as mãos na superfície.

 

1x18 - ALLAN:

 

O espírito sentia uma adrenalina imensa ao ver o que tinha ali: Ele, um espírito antigo e forte e Conrad, um padre jogado a sua própria sorte. Henry estava cansado de matar dentro daquele presídio, com os mesmo gritos de socorro, as mesmas ladainhas da polícia depois. Respirou fundo, sentindo o ar congelante rasgar os pulmões, aquele era extremamente dolorido para o padre, mas prazeroso pra ele. Pegou-se sorrindo de modo sádico e então, disfarçou um pouco se afastando. Assim Conrad não veria sua face. Devia acalmar os ânimos antes que o homem percebesse que Allan, não era mais tão “Allan” assim. Viu que ele o olhou com estranheza mas estava tão compenetrado no que fazia, que mal podia perceber nada. Henry era meio paranoico, claro que o padre não perceberia nada, ali estava bem escuro.

- Você é bem resistente, ahm? Já que estáaqui... Pegue mais uma pá e me ajude a quebrar esse caixão, ele é dos bons. –Elevouum pouco o rosto, vendo ali uma oportunidade de matá-lo com mais dor e sofrimento. Olhou para os lados para tentar achar a pá, mas uma dor terrível abalou sua cabeça. Ouvia a voz fraca de Allan, que rezava. Era única coisa que podia fazer naquele instante. Gemeu baixo, olhando de canto para o franciscano que parecia preocupado demais com aquele caixão. – Desgraçado... – falou em um tom quase imperceptível e colocou a mãos nos ouvidos. Ajoelhou-se no chão e a expressão de seu rosto passou de ódio para algo parecido com desespero. Aquilo estava mesmo afetando o espírito. De repente...- FRATELLO,NÃO PRECISA MAIS! –Conrad gritou e desconcentrou o pobre jovem que tentava tomaro controle da situação

Virou o rostomais raivoso do antes e tirou a faca da cintura, não queria perder mais tempo. Andou rápido em direção ao túmulo, estendo o punho pra enfiar a faca na cabeça do homem.- Fratello, o caixão está vazio!! É isso!! Os ossos de Henrydevem estar no presídio!!! –Deu um passo para trás caindo no chão. Henry estavavivenciando todo o sofrimento que havia passado, por algum motivo, quando o homem falou que os ossos dele não estavam ali. Allan estava ali com ele, tentando segurá-lo, era o pouco que podia fazer.– Conrad!!– Ele gritou caído ali no chão, seremexendo, queria que ele visse o que estava havendo. Mas o espírito era mais forte e cheio de ódio por aquele padre.

 

Por isso, ele se levantou e correu até a outra pá a pegando e sem pensar duas vezes, bateu na cabeça do homem, mas não com a força que queria. Allan e Henry brigavam em um mesmo corpo, mas aos pouco o pobre jovem ia perdendo. Ele soltou a pá e vendo o homem meio tonto ali, segurou-o pelos ombros, agarrando o tecido de sua roupa e o jogando metros a frente, bem de cara para uma árvore. – Desculpe, acho que vou ter que te matar! – A voz já não era de Allan, agora o espírito tomava totalmente o controle do corpo. Riu irônico, olhando-o prostrado ali no chão e viu que o sangue já descia da testa do missionário. – Vamos garotão, você é mais forte do que isso... – sussurrou em tom macabro se aproximando dele e o pegando pelos ombros novamente. Aproximou seu rosto do dele, pra poder falar mais baixo – Você quer saber o que eu fiz ou o que fizeram comigo? Hein? O que você quer? – Ele sorriu de canto, olhando para os lado, buscando a faca que tinha perdido. Queria mostrar pra ele tudo que Allan estava vendo. Aproximou mais o rosto, passando a ponta da língua sobre o sangue fresco dele e o provando, como um chefe de cozinha faz, experimentando algo delicioso. Ele era louco, por isso fazia isso. Riu novamente, jogando Conrad no chão. – Fazia tempo que eu não sentia gosto de alguma coisa, sabe?! – O chutou sobre o abdômen duas vezes, se afastando pra pegar a faca. – Vou te dar chance de ver o que só esse esquisito aqui sabe... gosta dessas coisas macabras né padre? – Subiu sobre ele, visto que estava ali no chão, ainda caído. Colocou a faca na garganta dele e com a outra mão segurou seu rosto, olhando-o bem nos olhos. – Olhe bem fundo nos meus olhos e eu te mostro tudo. Tudinho.

 

1x19 - CONRAD:

 

 

"Conrad!"- Ouviua voz de Allan gritando, parecendo ferido, machucado.

Aquilo preocupou Conrad que olhou na direção dogrito, parando o que estava fazendo e subiu num pulo para fora do buraco, com a pá na mão. Via o jovem caído no chão e o olhava, preocupado.

- Allan, eu disse que você não estava forte osuficiente pra vir pra cá! - Caminhou e agachou perto dele, colocando a mão no ombro do rapaz. - O que está sentindo? Está tudo bem? ... Allan!!

 

Estranhou quando do nada o jovem correu parapegar a pá. Havia algo estranho ali. Quando se ergueu para ir até ele e fazer alguma coisa, os movimentos foram rápidos demais. Ele levou aquela pancada daquela pá na têmpora, o corpo girou e ele caiu de quatro no chão, tonto. Caramba, que diabos estava havendo. Sua cabeça rodava, desnorteado, a vista embaçava. Via Allan se contorcendo, brigando consigo mesmo, cambaleante e bêbado entre grunhidos. Ele já havia estado naquela situação antes. Ao ver aquela cena, lembrou-se da vez em que um espírito vingativo da estrada tentou tomar posse de seu corpo, quando estava tentando ajudar Maritta Coyne. Entendeu tudo só num flash de memória.

 

- Ah não... Allan... - Falava absorto, fraco,procurando se levantar. - Você tirou os colares... Por quê... - Levou a mão na testa, quando Henry o pegou pelos ombros e jogou com a força de um espírito. O corpo voou até se esparramar numa árvore de cara, quebrando o nariz. O sangue escorreu e ele ouviu aquilo. A voz de Henry.

 

"Desculpe, acho que vou ter que tematar!"

 

O problema para Conrad não era ele. Allan nemHenry sabiam, mas ele era amaldiçoado. Não podia morrer. Ou melhor, podia, morria, mas em uma semana estava de volta novo em folha. O problema era ser morto e deixar seu irmão padre Allan a mercê daquele psicopata que possuía o corpo dele. Allan, até onde Conrad sabia, não era imortal.

- Não... - Sussurrou baixo, conseguindo virar debarriga pra cima, o sangue escorrendo da têmpora onde a pá bateu e do nariz, que quebrou na árvore.

"Vamos, garotão, você é mais forte doque isso..."

- Allan... - Chamou, procurando falar com ele,ajudar o amigo a ter forças. - Allan... - Sentou-se, esticando a mão na esperança de alcançar a pá e poder se defender.

 

Mas, foi pego pelos ombros de novo, sendo presopelo espírito. Não se importava com o que ele dizia. Tentava ignorar, olhando os olhos dele.

- Allan, você é mais forte do que isso... -Dizia rouco, concentrado. - Você consegue tomar controle... Você consegue... Hummrrr... - Grunhiu de nojo, encolhendo os ombros e virando o rosto, tentando fugir daquela lambida nojenta. - Não, já não basta Dencochelli.

 

O ceifador era amigo dele mas não podia ver elesangrando na desgraça que queria lamber. Conseguiu desvencilhar um pouco e segurar o fantasma com as mãos nos seus ombros também, os punhos fechados contra o peito dele, afastando ele de seu rosto, impedindo aquelas lambidas. Mas também acabava ficando um preso ao outro daquele jeito. Só foi solto quando Henry o jogou no chão e naquele instante, ele sentiu aquela pontada nas costelas, deitou em cima de algo.

 

Foi levar a mão para trás para ver o que era, nobolso de seu hábito marrom, mas levou aqueles chutes na barriga.

- COOOORFFFFFCORRRFFFFF... - Tossia com oschutes, ficando de bruços, conseguindo puxar o que era e segurar na mão. Era o saquinho pequeno que continha seu ritual de Devorador de Pecados. - Glorioso seja Deus, meu Pai, meu Senhor, meu Salvador, grazie Dio, grazie... - Começou a sussurrar aliviado, quase sentindo uma luz divina descendo do céu. Mas foi virado de barriga para cima e sentiu aquela faca no pescoço. Tentou segurar o pulso dele com a mão livre, tenso. - Quero, eu quero saber tudo, tudo o que você viveu.

Talvez aconvicção com que ele disse tivesse confundido o fantasma, que provavelmente achava que iria assustá-lo ou vê-lo com repulsa da ideia. Não... Ele era o Devorador de Pecados. E Henry era o próprio pecado. Aproveitou que o fantasma estava deliciado e distraído com a ideia e ergueu o joelho de vez, metendo aquela joelhada nos bagos do pobre Allan.

- Scusa, fratello! - Pediu desculpa porque deveter doído nos dois, até Conrad sentiu a dor. E foi sua oportunidade pra arranca a faca da mão do psicopata e jogar longe, meter um soco na cara dele, virar-se e trocar de posição, virando por cima.

 

Aquela seria uma tarefa que ele iria se gabarpro resto da vida se conseguisse - e olha que ele não era de se gabar de nada - mas ia ser uma missão impossível. Agarrou o pescoço do outro, deixando o peso do corpo por cima e tentando fazer de tudo para mantê-lo ali deitado. Ia levar chute, soco, investidas e tinha que conseguir mantê-lo ali e se manter em cima dele igual um cowboy em cima de um touro bravo, e ao mesmo tempo esticava a mão, abrindo o saquinho, deixando tudo esparramar no chão.

 

- Maledire, fique quieto!! - Pegou o carvão eesticou o braço, escrevendo na árvore acima da cabeça de Henry: as letras em aramaico "sangue entrando"... E respirou fundo, saiu de cima dele para escrever aos seus pés, virando de costas aramaico: "sangue saindo". Mas quando sentiu o menor movimento do outro, meteu um soco bem no nariz, para deixá-lo desnorteado por algum tempo. - Disse pra ficar quieto!!

 

Suava, as mãos tremiam. Enquanto o psicopataainda estava desnorteado com os golpes, ele pegou a cruz de madeira pequena e colocou em cima da testa dele. Agora sim ele sabia, aquela cruz de madeira iria prendê-lo quietinho sem conseguir se mexer, tamanha era energia que continha dentro dela. Finalmente conseguiu respirar fundo. Enxugou o suor e o sangue, ardendo nas pancadas. Pegou dentro do saquinho um pedaço de pão e um pedaço de sal grosso que, ao colocá-los em cima do coração de Allan, na pele, a pele começou a queimar devido a presença do espírito.

- Veniet, et sanguis Christi, carnem suam solvepeccatum... (que o sangue de jesus entre e desprenda o pecado de sua carne)... Paulum carnis peccati erit et sanguis Christi. (que o pecado desprenda e saia de sua carne, e o sangue de jesus permaneça)... - Dizia em latim, fazendo o sinal da cruz em cima do homem, sem ligar o quanto o fantasma estava agonisando ali preso. - Me conte seus pecados.

 

Ao dizer aquilo, ele pegou os pedacinhos e pão esal do peito do homem. Um uma linha transparente de ectoplasma parecia grudada nos dois pedaços e foi esticando até o franciscano colocar os dois pedados na boca e engolir. Naquele momento, as coisas começaram a sair do pescoço do corpo do padre. Era Henry quem ele estava ritualizando, não Allan. O padre não sofreria nada, enquanto aquelas espécies de águas vivas (eram o que pareciam) saíam do corpo dele. Desde as tonalidades mais suaves até as mais densas, e a maioria era negra, como fumaças pretas.

 

Subitamente foi agarrado por aqueles tentáculoslisos de caravelas, todas elas aos poucos se apossando do corpo do italiano e o deixando sem ar. Arregalava os olhos, tamanho era seu desespero. Não importava por quanto tempo fazia isso, era sempre desesperador. E no momento em que a primeira pareceu mirá-lo, sua boca foi aberta à força. Os olhos abriram mais, e aquele turbilhão de coisas foi entrando goela adentro dele, como fumaça, como uma clara possessão demoníaca. Vibravam todo o corpo devido à intensidade de tantos pecados pesados, pareciam queimar sua alma por dentro. Tiravam-lhe o ar, o juízo.

O grito ecoavaenquanto tudo aquilo entrava. Mas não havia demônio ali nem possessão nenhuma. Aqueles eram os "pecados" de Henry, carregados das lembranças dele. E à medida em que as cenas foram enchendo sua cabeça em um turbilhão caótico, as pupilas foram dilatando.

 

AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRR....

 

Quando o último pecado fosse"engolido" por Conrad, a alma de Henry se desprenderia do corpo de Allan e estava livre para ir aos céus. Sim, aos céus, porque havia teoricamente sido perdoado. Allan poderia estar livre dele.

 

 

 

 

 

1x20 - ALLAN:

 

Tatue esse símbolo, Allan. Acredite,um dia esses colares não serão o suficiente”... – ecoava pelacabeça do pobre padre, enquanto não fazia jus aos seus atos, pois não eram seus. Ele sabia bem como era aquela sensação quase enlouquecedora de ver seu corpo sobre o comando de outra coisa. – Essas palavras eram de um padre, amigo de muito tempo, que ajudou em muitas missões. Aquilo veio na mente do jovem, como uma paulada de arrependimento, “porque eu não o ouvi?” – segurava Conrad contra aquela árvore e podia ver o regaço que estava fazendo com o pobre homem. As palavras sujas e terríveis de Henry, que estava amando ver o sofrimento do outro, anulava cada vez mais a percepção de Allan. E por mais que o outro o chamasse, dissesse que ele era mais forte, ela sabia que não era. Nunca foi. 

Henry teve uma infância difícil. Forauma criança magra e judiada. O pai bebia e a mãe era uma prostituta. O pai batia nele e surrava sua mãe. O fim de tudo, foi a morte dela, com uma facada na barriga, bem na frente dele. Henry, apesar de um menino traumatizado, era excelente na escola. Sabia fingir sentimentos. Mas gosta de ver o sofrimento. Aprendeu a gostar... tudo isso passava pelos olhos de Allan e quando ele os fitou nos do outro padre, queria passar pra ele, toda a dor e angústia que ainda sentia e que estava fazendo o pobre “recipiente” sentir. Mas ai, Conrad o surpreendeu de novo. O espírito não sabia que ele ia arrumar tanta coragem e com aquela certeza dizer que queria saber tudo. Isso o abalou; pra sorte do mesmo. Mas ficou irritado, franziu o cenho e cerrou os olhos, segurando ele pela gola da roupa. – PARE de zuar da minha cara, seu filho de uma puta! –revoltou-se por ver que toda aquela tortura não estava surtindo efeito e gritou de dor, quando recebeu o chute entre as pernas. Estava preparado pra enfiar aquela faca na garganta do homem e acabar com aquilo de uma vez por todas. Só que saiu tudo errado. – Meu solte seu projeto de homem, seu viadodesgraçado...! AAAAH! – Mexia-se debaixo de Conrad, tentando soltarsuas mãos.

Batia as pernas no chão, mas aquelecara era mais forte do que Allan. Olhou para os lados desesperado, seu momento de vitória tinha sido tão breve, aquela excitação de matar agora se tornava tão distante. O olhou com raiva, as íris estavam de uma cor estranha, um amarelo meio avermelhado – Você vai me mandar pro inferno, seu padre vadio? -otom de voz era provocativo e agora ele não se mexia tanto – na verdade era porque não podia – estava totalmente preso por alguma coisa – Pois eu vou tefalar... já estive lá centenas de vezes!! - Henry não sabia queo franciscano iria perdoar seus pecados, por isso disse aquilo. 

 

Voltou a gritar, alguma coisa, Conradnão ia entender. Uma língua diferente, parecia o tipo de uma oração. 

 

O tempo estava calmo e depois disso, as árvores começaram a balançar com a força do vento. Nada muito forte, algo discreto. Ele começou a sussurrar olhando nos olhos do Padre. Sabia que não podia contra ele... mas como um bom e esperto espírito mau, antigo por assim dizer, riu macabramente antes de dizer –Você tem seus truques... eu tenho os meus, Conrad. Eu vou pra onde me mandar mas... Allan.. – Sentiu um soco de repente, parando de falar. Estava tontoe desnorteado. Isso deu tempo pra que o padre continuasse o ritual. Ele apertou os olhos, gemendo de dor. Sentiu as lágrimas quentes virem aos olhos e começou a chorar literalmente, enquanto sentia a pele queimar devido ao sal grosso –Por favor... não me faça sofrer, eu já sofri tanto... – a voz eradiferente, talvez outro lado do espírito de Henry, que não tinha nada haver com o mal. 

E então, Conrad continuou seu ritual. 

Ele estava preocupado demais as vezes, ignorando oque o espírito falava, porque talvez fosse a melhor coisa a se fazer. Porém, o padre devia ter prestado atenção nas últimas palavras do pobre, mas esperto, espírito maldito. 

Depois que tudo acabou, Allan apenas respirou fundo, levando a mão aopeito com os olhos arregalados: - DEUS DO CÉU! - respiravaofegante, levando a

 

 

 

mão ao nariz que sangrava de novo. – Oh.. meu..Deus... – Fitou os olhos do padre e assim ele pode ver, eram mansos eestavam cheios de água. –Conrad.. eu... me.. des... – gemeu de dor,apertando os olhos. Tudo parecia ter voltado ao normal, finalmente. Mas os dois estavam acabados. Allan não se lembrava de nada, apenas alguns flashs que não faziam sentido.  - Me desculpe... eu não.. 

 

 

 

 

2x01 - CONRAD:

 

Conrad tinha esperança em Allan. O rapaz podia não achar isso ou não enxergar, mas ele, se quisesse, poderia ser um grande homem um dia. Ora, ele era médium, ouvia e sentia espíritos, provavelmente tinha uma fé verdadeira naquilo que acreditava, tinha um poder, era só aprender a usá-lo, ter mais confiança em si mesmo! Por isso chamara várias vezes, insistentemente, mas ainda assim, não conseguiu tirar o espírito do comando do corpo do jovem padre, apenas conseguiu deboches da criatura maligna em resposta.

 

“PARE de zuar da minha cara, seu filho de uma puta!”

“Meu solte seu projeto de homem, seu viado desgraçado...! AAAAH! Você vai me mandar pro inferno, seu padre vadio? Pois eu vou te falar... já estive lá centenas de vezes!!”

 

Por um instante, Conrad teve medo do que era aquela oração em língua desconhecida. Não era enoquiano, a língua dos anjos e dos caídos, era uma outra língua que ele não sabia, talvez algo típico da época em que aquele rapaz era vivo, talvez algum dialeto específico demoníaco. Ele franziu a testa, por aquele instante, interrompendo o ritual, mas depois voltando a se concentrar nele. Sabe-se lá que desgraça aquele espírito estava chamando, precisava agir rápido antes que ele pudesse concluir suas artimanhas. Os ventos sopraram seus cabelos, e dando um arrepio na coluna. Não podia deixar isso acontecer!

 

“Você tem seus truques... eu tenho os meus, Conrad. Eu vou pra onde memandar mas... Allan...”–Socou o rosto do rapaz, impedindo do espírito continuar. -“Por favor... não me faça sofrer,eu já sofri tanto...”

- Eu sei...

 

Então, concluiu o ritual.

Não viu o tempo passar, perdeu a noção de tempo e espaço. O que enchia sua cabeça eram gritos de uma criança castigada, a voz de um homem bêbado falando para ela esconder entre o cinto e as pontas de cigarro. Via as cenas de um quartinho escuro, a violência, a mãe com os lábios sangrando e aos prantos, e uma faca enfiada em sua barriga, onde suas mãos estavam, como se tentasse tirar a faca dali mas não tivesse forças. O rosto da mãe morta. Allan.

- DEUS DO CÉU!

 

Conrad abriu os olhos quando a voz de Allan interrompeu o turbilhão de memórias do pecado de Henry, e dos pecados do pai dele.

- Ele está bem agora, está bem agora, está bem agora... – Ficava repetindo baixo para si mesmo, o que podia não fazer sentindo algum para Allan. – É só um pobre coitado, vão ajuda-lo, ele vai se curar... Vai se curar... – Fechava os olhos de novo, sentindo uma dor pontuda na testa. Agora Henry devia estar passando pelas portas do Paraíso, para ser curado pelos anjos e finalmente ser feliz, livre de seus pecados, que agora pesavam na alma de Conrad.

 

Quando abriu os olhos de novo, viu o verdadeiro Allan em sua frente, choroso, pedindo mil desculpas. Conrad não se importava, não ouvia.

- Ele falou algo de você... – Tentando se lembrar, com a mente confusa. – Lançou uma maldição sobre você, eu acho... – Arfava, levantando-se. – Não, eu não vou te desculpar agora.

Não era verdade, na verdade nem culpava o rapaz pelo que aconteceu, a culpa foi dele que deixou Allan sozinho em casa, depois dele ter sido possuído. Foi erro dele. Mas falou aquilo só para deixar o outro sem reações por alguns segundos, e pulou para cima dele de novo.

Parecia até que era ELE que estava possuído pela coisa ruim, e naquelaconfusão, tentando pegar o braço dele e imobilizá-lo, puxou a faca que o espírito maligno tinha usado contra ele, riscando o braço do amigo. Às vezes quase acabava ferindo ele grave com os dois se mexendo, se debatendo.

- Fique quieto! – O sangue escorria pelo bíceps de Allan, mas quando aquilo secasse e coagulasse, daria para ver a figura que o padre desenhou ali com a pontinha da faca.

Soltou o braço do outro assim que terminou.

- Isso não vai durar muito, quando sua pele cicatrizar, a figura vai distorcer e desaparecer... Mas por enquanto, vai nos dar um tempo... Precisamos de um tempo. A culpa é minha. – Disse baixo. – Eu não consegui interromper ele. Ele lançou um negócio em você.

 

Com dificuldade, Conrad se levantou. Estava tão mal acabado que parecia um zumbi que saiu daquela tumba. Mancava até as pás – deve ter torcido o tornozelo em algum momento da briga com Henry - jogando dentro da tumba cavada e a deixando aberta, não havia nada ali mesmo, o caixão estava vazio. Algum doido já tinha tirado aquilo de lá antes, e levado para a penitenciária. Pelo menos, Henry não iria mais matar nenhum bandido, sua missão foi cumprida. Agora bastava saber o que estava por vir para Allan.

 

Ele ajudou o rapaz a subir no banco do carro e subiu também, dirigindo de volta para casa. Estava pálido, e parecia enjoado pelo olhar. O carro dirigia em zig-zag pela estrada como se o franciscano estivesse bêbado. E em algum momento da viagem, onde ficou em silêncio na maioria do tempo, sussurrou baixo, num tom deprimido de voz.

- Eu estou cansado... Eu estou tão cansado... – Suspirou sem forças, estacionando na frente da casa.

Não foi o ataque físico que o deixara assim, a luta, os socos, isso era apenas um bônus. Mas seu verdadeiro mal-estar vinha do ritual. No começo, ele só acordava assustado daquelas coisas. Mas ultimamente, desde 1935, toda a vez que devorava os pecados de alguém, ficava exaurido, todo acabado.

 

Assim que entrou em casa, entregou um copo com água benta para o rapaz beber, o crucifixo ainda estava mergulhado no copo. Seria bom, ele se sentiria melhor. Ele mesmo pegou um daqueles copos para si, mas, assim que colocou na boca, deixou o vidro cair no chão, estilhaçar, e correu para o banheiro. Caiu de joelhos na frente da privada e colocou tudo para fora, tudo o que tinha comido na sua última refeição lá na prisão. Adeus, Mc Lanche Feliz.

- Cáspita... Argh!! – Levantou, indo lavar a boca e escovar os dentes. Voltava para falar com Allan com a escova na mão. – A gente não pode esperar muito. Podemos tirar um cochilo... Mas assim que o sol nascer, eu vou te acordar, capicce? – Ia cuspir a pasta na pia e voltava. – Allan... Tem de ser sincero comigo com o que eu vou te perguntar. – Dizia cauteloso, olhando para a cara mal acabada do rapaz. – Você já invocou um demônio? Porque é isso que vamos fazer amanhã. Eu tenho que saber o que Henry enfiou em você, antes que a proteção na sua pele cicatrize.

 

2x02 - ALLAN:

 

Sentia como se houvesse um pregoenfiado em sua cabeça. Mas a dor, o medo e a angustia que estava sentindo, de repente sumiram. Allan gritava, mas não era sua voz naquele momento. Quando o ritual estava chegando ao fim, sua voz mudou, voltando a ser a da pobre padre. Levou suas mãos até o rosto, ainda gritando de dor. Tinha sido esmurrado mais uma vez e já estava machucado. A primeira coisa que viu, com a visão um pouco embaçada ainda, Conrad não parecia bem. Deu um jeito de se levantar e se aproximar dele, ainda pedindo desculpas – Oh meu Deus do céu, o queeu... o que aquele... meu Deus, o que ele fez?! Está ferido de verdade? –Allan não se lembrava bem do que tinha acontecido. Era sempre assim, quando a possessão terminava, ele não se lembrava de quase nada. 

O tempo estava frio e as árvoresainda balançavam bem levemente com o vento. O fransciscano ficou parado alguns minutos, não parecia bem mesmo. Allan podia enxergar, ele parecia um trapo Falava algumas coisas baixo, mas ele não conseguia discernir corretamente. Só fechou os olhos, segurando o braço de Conrad pra ajuda-lo a se levantar. –Me desculpe, oh Deus, me descul... - - Ele falou algo de você... – Tentando selembrar, com a mente confusa. – Lançou uma maldição sobre você, eu acho... – Arfava, levantando-se. – Não, eu não vou te desculpar agora. – Allan foiinterrompido pelas palavras dele, não estava entendendo nada, Conrad conseguiu se levantar sozinho. Franziu o cenho quando ouviu a última coisa que ele falou. Entre abriu os lábios machucados pra tentar perguntar alguma coisa, mas do nada, Conrad caiu com ele no chão loucamente – MAS O QUE É..! –perguntou assustado tentando empurrar o homem de cima de si, mas estava fraco como uma galinha. – O que está havendo, Conrad?! – arregalouos olhos quando viu ele pegar a faca e já imaginou que talvez ele estivesse possuído. – Ei, Ei!!! O que vai fazer com essa..!! ah!! –gritou quando a lâmina afiada da faca cortou, apertando os olhos – Me diz o que é isso??? – se mexia um pouco, mas já estava tão cansado esem fôlego. Olhou pro machucado e depois pra Conrad, bem em seus olhos. Parecia ele, mas pra que estava fazendo aquilo? Se mexeu mais um pouco, gemendo de dor e virando o rosto pra lá – Espero que isso valha a pena... –sussurrou e então o outro já tinha saído de cima dele. Se afastou, ainda no chão, ouvindo o que ele tinha pra dizer. Colocou a mão em cima do machucado, apertando os lábios por causa daquela dor ardida. Sabia de alguma forma que aquilo era para seu bem.

Se levantou então, com a mesmadificuldade que ele, assimilando o que ele lhe contava. Que negócio era esse? Só faltava isso... mais problemas. – Mas você sabe o que foi? –perguntou apenas isso, começando a caminhar com dificuldade para o rumo do carro. – Se você quiser, eu posso dirigir. – fez cara de dorpor alguns instantes e se jogou no banco do passageiro, quando percebeu que Conrad estava muito preocupado com aquilo pra lhe responder. Ficou a observá-lo enquanto dirigia, não o culparia por nada. Estava acabado. Rezava pra chegarem bem no lugar, ainda bem que a estrada estava parada. Ouviu as lamentações dele sobre estar cansado e suspirou, falou baixo também, encostando sua cabeça no vidro. - Uma noite de sono pode ajudar a gente... vai ficar melhor.-Alguns minutos passaram e lá estavam eles, já em casa. 

Conrad queria ajudar Allan e Allanqueria ajudar Conrad, porém os dois estavam quase mortos. Recebeu o copo de água do outro, bebendo de uma vez. Tinha tanta coisa pra perguntar, mas percebia que talvez seria melhor deixar as coisas pra depois. Conrad precisava descansar, bem mais que o jovem. Ele estava machucado, mas só sentia dor. O viu correr para o banheiro e colocar tudo pra fora. Respirou fundo, sentido dó dele. Não merecia sofrer daquele tanto pelo bom trabalho que fazia. –Realmente acho que deveria tirar umas férias depois disso.. – faloumeio baixo e sem jeito, só queria quebrar a tensão daquela situação. Sorriu de leve e fitou o rosto do outro padre. Ele vinha com uma escova na mão. Ficou prestando atenção nas palavras dele. Desviou o olhar com aquela pergunta, seria sincero. – Nunca, padre. Não me especializei nessa área, porque causada minha mediunidade... não posso mexer ou ficar procurando essas coisas. –arregalou um pouco os olhos quando ele disse que era isso que eles iriam fazer. Estava com medo agora. Suspirou olhando em volta, meio perdido. – Eporque? 

A verdade é que não achava aquilocorreto de forma alguma.

 

 

2x03 - CONRAD:

 

Cada trabalhotinha um preço. Sim, Conrad sabia muito bem pelo que Allan estava passando, ele sabia como era ter memórias de loucos em sua cabeça. Muitos ele havia perdoado, alguns talvez não merecessem... Mas, mesmo com dificuldade, conseguiu dirigir até em casa, sem responder muitas perguntas.

- Eu não sei... – Disse sincero, cansado. Elenão sabia qual foi a praga, o Henry tinha proferido em um dialeto específico que ele não conhecia nem teve tempo para parar o agouro no meio, quando seu ritual terminou, o de Henry já havia sido lançado.

 

“Uma noite de sono pode ajudar a gente... Vaificar melhor.”

- Sim, nós vamos, não se preocupe. – Ele dissemais para consolar o jovem do que a si mesmo. Queria que Allan pudesse relaxar só um pouquinho, porque o rapaz tinha recebido duas vezes o mesmo espírito maligno no corpo, só naquele dia.

 

O dia já estava quase raiando e eles sóconseguiram completar a missão de Henry naquele momento. Então, depois de ter vomitado, ele riu fraco, lembrando-se de algo.

- Eu ainda sou fugitivo da polícia! – Como sedissesse “é mesmo, ainda tem essa!”. Voltou com a escova de dente na boca, ouvindo os conselhos do amigo sobre tirar férias. Ele suspirou, meneando a cabeça com fatalidade. Voltou ao banheiro pra cuspir a pasta e bochechar água, enxaguar o rosto.

- Da última vez que tirei férias, fui paraJerusalém... Um lugar bonito e muito poderoso porque é a junção de três lugares sagrados em um só. E adivinha, um demônio me encontrou lá, e lá se foi minhas férias.

 

Lembrava-se da pequena aventura com Maya, ademônio que dizia querer impedir a volta de Lúcifer para a terra e... Nem valia a pena se lembrar daquele episódio.

- Não dá para tirar férias de quem eu sou. Euteria que nascer de novo. – Disse, fatalmente.

Então voltou para a sala e fez aquela perguntaestranha. Viu que o rapaz estranhou, franziu o cenho para ele, questionando a integridade de Conrad mesmo que não tivesse a intensão. O italiano apertou os lábios e respondeu sincero.

 

- Eu não vou fazer pacto nenhum, não sepreocupe. Não sou um pecador nesse sentido. – Sentava-se na frente do rapaz, numa cadeira também.

É só que...Anjos e demônios podem ler a áurea das pessoas, como a mente etc... Eles seriam capazes de ver que tipo de maldição o Henry jogou em você e nos dizer o que é. Mas, eu não saberia controlar um anjo e depois expulsá-lo de volta para o paraíso. Eu até sei, mas eles são muito fortes e perigosos, correríamos o risco dele nos matar antes que o mandasse embora. – Sim, Conrad estava falando de anjos. Anjos! – E um demônio é mais fácil... É mais fácil de aprisiona-lo, chantageá-lo e depois manda-lo para o inferno novamente... – Pegou o copo vazio de água da mão do amigo. – Conjurar um demônio não é abrir um buraco do Inferno e trazer qualquer um para a terra, é chamar aqueles que já estão aqui, possuindo o corpo de alguém. Vamos ter a chance de achar uma solução para o seu problema e salvar a pobre alma de algum possuído. Eu vou exorcizá-lo depois, tem minha palavra.

 

Depois disso, levantou-se e colocou o copo vaziona pia. Ia lavar aquilo amanhã, não hoje. Ajudou Allan a se levantar e o conduziu até o quarto velho daquela casa abandonada. Deu sua cama para ele e o deixou à vontade. Puxou o colchão da bicama e estirou no chão e se deitou ali para dormir. Dessa vez, não ia descolar do menino até que tudo estivesse bem. E não demorou muito para pregar os olhos. Em segundos, Conrad já estava roncando em cima do colchão.

 

Dia Seguinte – 13:40 da tarde.

 

Quando Conrad abriu os olhos, já era de tarde. Aprimeira coisa que ele fez quando levantou foi correr até Allan e checar se o símbolo ainda estava talhado, superficialmente, em sua pele. Estava, graças a Deus. Ainda tinham tempo. Deixou o rapaz dormir mais um pouco e correu para o banheiro, tomar um banho gelado para acordar. Como a casa era abandonada, ele não tinha energia, logo a água do chuveiro era fria igual o cão. Vestiu finalmente seu hábito marrom cinzento, limpo e confortável, já se sentindo um pouco melhor. Enquanto escovava os dentes, olhando-se no reflexo do espelho, flashes de lembranças de Henry vinham na cabeça. Um homem queimando cigarros na pele do menino. Gritos. Desfocou-se daquilo e voltou para o quarto, indo acordar o outro.

- Allan? Allan... Fratellino, acorde! Precisamosfazer isso rápido. – Sentou na beirada da cama, esperando o rapaz.

 

2x04 - ALLAN:

 

Geralmente quando aquilo tudoacabava, toda aquela confusão em sua mente, aquela prisão sem grades aonde o pobre moço tinha que assistir seu corpo ser dominado por algo além da compreensão humana, Allan se sentia um pouco fraco, não de corpo, claro, também se sentia assim, mas por dentro. Era como se um buraco estivesse ali e pouco a pouco ele ia sendo preenchido com ele mesmo. Era difícil de entender... porém, não estava assim. Sentia dor e o corpo quebrado quase, mas espiritualmente nunca se sentiu normal daquela forma. 

O coitado do amigo estava maisacabado que ele, mas isso era normal pelo que ele tinha acabado de fazer. Então deixou o mesmo quieto em seu canto ouvindo o que ele tinha dizer, deixando livre pra fazer o que quisesse. E então, ele ficou com pena dele... nunca teria descanso daquilo. Conrad não merecia isso, podia ter pelo menos um tempo de paz depois de cada missão. Mas ele não era ninguém pra julgar os planos de Deus pras pessoas. Por isso, balançou a cabeça de leve, colocando as mãos sobre o rosto machucado respirando fundo, o símbolo de proteção que ele tinha rasgado no padre ainda doía pra burro. E então, veio aquele pergunta. Allan ficou incomodado e não deu pra esconder. O rosto franzido do moço. Perguntou o por que, era o que podia fazer. 

Confiava em Conrad. Não confiava em si mesmo. Uma vez explicaram que ojovem padre era como uma casa. Todas as pessoas são assim, tem sua sensibilidade, são capazes de sentir alguma coisa além do normal. Porém, ele tinha suas portas e janelas abertas. Seu espírito era totalmente dominável. Qualquer coisa ou alma, até mesmo anjos poderiam fazer parte dele. Não estava certo disso, tinha medo. Se por algum acaso algo saísse errado, seria mais um trabalho para o pobre amigo. Ele olhou o machucado e prestou atenção na explicação do homem. Não duvidava dele, mas tinha medo por si. No entanto, o tempo passava e algo poderia estar acontecendo, devido a tal maldição. – Está certo,Conrad... vamos fazer isso Eu espero que... de certo. – forçou um levesorriso, infelizmente aquele era o momento pra ter coragem. 

Deixou que ele o ajudasse a chegar até o quarto e quando sentou-se sobre a cama, gemeu de dor, suspirando. – eu nem se quer participei das aulasde exorcismo... – comentou, apertando os olhos, aguentando ador. – Não me importo muito com espíritos, mas eu morro de medodesses... Demônios... – disse baixo, virando o rosto pra olhar profranciscano que deitava ao seu lado – Desculpe te tirar da sua cama... –falou com pesar, respirando fundo de novo e calando a boca agora. Ambos precisavam dormir, com certeza no outro dia as coisas seriam pesadas.

Ele simplesmente apagou. Teve algunssonhos, com coisas aleatórias ao que tinha acontecido, outra coisa que podia-se dizer estranha. Geralmente sonhava com coisas terríveis sobre a memória daquele que tinha o possuído. Abriu os olhos sentindo a luz do sol em seu rosto, que vinha por uma fresta no teto. Conrad não estava ali. Segurou o braço, vendo o machucado parcialmente cicatrizado. Sorriu de leve e fez o sinal da cruz, rezando em seguida, como sempre fazia quando acordava. Se deitou de novo, seu corpo ainda estava dolorido e fechou os olhos por alguns segundos, pelo menos foi o que ele pensou. Foi ai que voltou a si, com a voz do homem perto de si. – Opa, Conrad... é.. – se levantou, passando a mão peloscabelos concordando com ele sobre terem que fazer isso rápido. – Vocêtem razão, quando mais rápido melhor. – levou a mão até as costas,sentindo um tipo de coceira ali, mas não se importou com isso. Levantou-se, olhando em volta, juntando as mãos... – E... como eu posso ajudar? –faria o que fosse necessário pra que aquilo desse certo.

 

 

2x05 - CONRAD:

 

- Vai dar, vai dar certo. Tem que dar certo! É a única carta que eutenho nas mãos agora! – Conrad abriu os braços, sem muita alternativa. Ouviu que Allan tinha faltado as aulas de exorcismo e concordou com a cabeça. – Bem, agora é a hora de aprender o que você não aprendeu antes. – Como se fosse uma coisa boa aquilo. Não era. Ninguém deveria aprender a exorcizar, porque demônios não deveriam estar vagando na terra.

Conrad nem ligou para os pedidos de desculpa de Allan, de ter tirado ele da cama. Dormiria em qualquer lugar mesmo. Quando acordou, tomou aquele banho, fez todo o asseio e então, foi acordar o amigo. Logo depois que o acordou, ele viu o braço de Allan, parte do ferimento já cicatrizando, e isso o fez ficar com o rosto sério, duro.
- É melhor irmos rápido mesmo. – Levantou e foi até sua mochila, pegando dali de dentro um livro de capa dura marrom, grosso. – Você filou as aulas de exorcismo, mas não filou as aulas de latim, não é? Toma. Esse é o Ritual Romano. Aqui tem várias formas de exorcismos, adaptados ao tipo de criatura que devemos expulsar. Você tem fé e sabe ler latim, então pronto, vai conseguir fazer isso.

Ele folheava o livro até parar mais ou menos no meio dele.
- Eu vou chamar um demônio da encruzilhada, então é esse trecho aqui que serve. Vai expulsá-lo direto para o inferno, e protege a vítima, se por acaso dermos azar dele sair do inferno, ele não vai conseguir possuir o mesmo corpo de antes. – Mostrava o trecho para Allan, a página sendo salva por uma fitinha vermelha do próprio livro do Ritual Romano. – Bene, troque de roupa, eu vou pegar as coisas e a gente vai dar uma volta pra achar uma encruzilhada.

Parecia ideia de maluco, dois padres procurando uma encruzilhada. Conrad pegou uma de suas carteiras falsas de identidade, porque iria usar uma foto sua, não de Allan, não queria nenhum maluco do inferno correndo atrás do amigo pra se vingar de nada. Pegou de dentro de um pacotinho de bruxa que havia guardado os ossinho de gato preto, outros apetrechos para o ritual e fechou na caixinha. Quando Allan ficou pronto, ele saiu com o padre de carro, com aquela van ainda que roubaram da prisão na fuga. Parou no meio de uma estrava de encruzilhada, em formato de cruz.
- Você está se sentindo bem? – Perguntou, preocupado. O amigo tinha recebido uma maldição no dia anterior, se estivesse se sentindo esquisito, era bom saber. – Se não quiser, não precisa participar de nada. Você sabe disso. Eu me viro.


 

Ele foi até o meio do negócio e pegou uma latinha de spray de pichação –onde Conrad conseguia essas coisas era melhor não saber – e vez um símbolo no chão, mais conhecido como a Chave de Salomão, com todos os pequenos símbolos hebraicos dentro. O círculo que fez foi grande, cobrindo todas as quatro entradas das vias da encruzilhada. Assim que estava pronto, ele foi até o meio do símbolo e deixou sua caixinha ali, enterrada. Deu alguns passos pra trás e olhou para Allan.
- Vê alguém? Antigamente eles não costumavam demorar. – Dizia pra o amigo, sem perceber que uma mulher estava chegando por trás de si, devagar.

 

 

2x06 - ALLAN:

 

Está certo. – respondeucom prontidão. Ele teria que ajudar com algumas falas em latim, não parecia difícil, apesar do jovem saber que nada nesse mundo é simplesmente fácil. Sim, tinha frequentado as aulas de latim e havia se saído muito bem, afinal. Prestou atenção nas palavras do amigo, talvez ele percebesse o receio do moço, mas Allan estava tentando manter-se calmo. Não demorou muito pra se trocar e logo, estava na presença do outro padre. Segurava o livro e parecia um pouco ansioso. Nunca era uma boa ideia ter contato com aquele tipo de coisa ,porém sabia que estava protegido ao lado do amigo. 

 

Os dois seguiram para a van e depoisde alguns minutos, Conrad parecia ter encontrado o local certo. O padre não se se sentia mal naquele momento, apenas estava meio acabado por conta do acontecido. Ainda sentia os ossos doerem e a cabeça estava um pouco leve, algo que ele sempre sentia quando coisas daquele tipo aconteciam. Sorriu de leve, olhando para o amigo. – Acredito que isso não vai ser muit... –não deu tempo de terminar de falar. Os olhos azuis do moço avistaram algo. No canto da estrada vazia, uma figura pálida com roupas pretas, pelo menos foi isso que deu pra ver. O veículo passou muito rápido por aquilo, por isso, o jovem se virou de uma vez pra trás, mas como sempre, não tinha mais nada ali. Franziu o cenho segurando com força o livro. Fitou por alguns segundos o amigo, suspirando. – Eu vi alguém. Não sei quem era ou o que era só que...estou com um mal pressentimento. 

 

Não adiantava mais correr, aquiloteria que ser feito. O símbolo que o franciscano tinha feito no braço já estava quase cicatrizado. Geralmente, Allan não tinha uma boa cicatrização, mas alguma coisa estava começando a acontecer ali, com certeza. O homem também parecia preocupado. Fez aquela pergunta pra ele, só que o mesmo não sabia ao certo o que responder. Estava bem, ou mais ou menos isso, até ver aquilo. Tudo estava estranho agora. O sol, ainda claro por ser de manhã, iluminava o lugar. Parecia que ia ser um dia muito bonito. Ele costumava pensar assim, só que quando desceu da van se sentia mal. Respirou fundo algumas vezes olhando em volta, mudando de assunto. – Você já deve ter feito isso muitas vezes, não é... – Isso era óbivo, mas o padre tinha que desviar sua atenção.Tinha aprendido a se comportar assim, desde de pequeno, nunca quis passar por louco ou ir para algum hospital psiquiátrico. Ninguém acreditaria nele... só que agora, ele estava com alguém que sim. 

 

... Elevou os olhos pra, olhando parao céu e depois em volta, devagar. –Conrad... eu... eu acho que não estamos sozinhos.

 

 

2x07 - CONRAD:

 

O plano delesde invocar um demônio parecia bastante simples em comparação com o que eles tinham passado anteriormente: fugir da cadeia e exorcizar um fantasma que possuía o corpo de Allan. Mas, nem por isso parecia mais leve e mais seguro. Demônios eram traiçoeiros, nunca se podia relaxar demais na frente deles. Allan iria recitar o exorcismo em latim com o livro do Ritual Romano, isso depois que tivessem chegado a alguma conclusão de que tipo de “macumba” o fantasma do psicopata Henry jogou no seu amigo. Assim jeito, já estavam dentro do carro e pararam quando o franciscano viu uma encruzilhada, o terreno perfeito.

No meio da frase, Allan parou para dizer algumacoisa e então, cortou o assunto. Foi nessa hora que Conrad parou de prestar atenção na estrada e olhou para ele.
- O quê? O que foi? – Olhou para Allan ouvindosobre o “alguém”, olhou em volta e não viu ninguém. – Eu não vejo ninguém, será que é um espírito? Ele ainda está aqui?
Se fosse um espírito, seria menos mal. Qual é aligação de um espírito aleatório na estrada e o que eles estavam prestes a fazer ali? E também, Allan ainda estava protegido pelos símbolos cortados na sua pele... Ainda!

Quando saíram do carro, o italiano percebeu queo amigo não estava nada bem. Tinha uma expressão amarga no rosto e respirava rápido, ainda olhando para os lados. Por que aquele mau pressentimento? Por que aquele mal estar? Ouviu a pergunta de Allan e concordou com a cabeça.
- Eu costumo trabalhar como exorcista, ahm...Bene, vamos logo com isso, sim?

Incomodado e com medo que algo acontecesse e osimpedisse de continuar o ritual, ele pegou carvão da sua bolsa de couro e começou a riscar no chão um enorme círculo, bem grande mesmo, tomando todas as quatro ruas que formavam a encruzilhada para que não tivesse como o demônio invocado aparecer fora da armadilha. Dentro do círculo, começava fazendo um símbolo estrelar parecendo com a estrela de Davi, mas depois os desenhos e os detalhes dentro formavam outro tipo de proteção: as letras em aramaico ditavam um feitiço que enfraquecia e encarcerava o demônio que ficasse dentro dos limites do desenho: a Chave de Salomão.

Quando terminou, ele pegou uma caixinha de metale abriu. Dentro dela, tinha ossinhos de gato (ele não o matou, já encontrara assim!) e uma foto sua. Mostrou a foto para Allan.
- Isso quer dizer que ele virá atrás de mim enão de você. – Assegurou o rapaz. Então, fechou a caixinha e enterrou no barro seco no meio do símbolo, afastando-se dele e ficando para fora dos limites com cuidado para não apagar nenhum detalhe importante. Quando Allan disse que eles não estavam sozinhos, o exorcista olhou sério para ele, atento. Acreditava no rapaz. Procurou se concentrar, olhando para todos os lados. De repente, sentia aquele mesmo incômodo de Allan, mas não via ninguém.
-Ele tem razão, Conrad. Não estão mais sozinhos.

Quando ele virou novamente para a encruzilhada,havia uma mulher dentro do círculo. Uma mocinha bem magra e jovem, na faixa de 15 anos, de cabelos tão loiros que pareciam brancos e olhos azuis, com feições angelicais.
-Não é possível que estamos nesse impasse de novo. O que vocêquer dessa vez?
- A gente se conhece? – Viu a cara de desgostodo demônio e meneou a cabeça. – Bem, não importa! Fratello, chegue aqui. Pegou a mão de Allan e puxou para seu lado, ambos do lado de fora da armadilha e a garota se aproximando do outro lado da linha. – Preciso que nos faça um favor.
-Em troca de quê? De arrancar sua coluna vertebral pelo cú quando você cair no Inferno? EU CANSEI DE VOCÊ ME INVOCAR PARA ME CHANTAGEAR SEU FILHO DA PUTA!
O italiano revirou os olhos.
- Então por que não deixa vir outro no seulugar?

Os olhos da garota ficaram negros como ébano eela rugiu num tom de voz anormal e demoníaco, grutual, de raiva, começando a zanzar como uma besta engaiolada dentro da Chave de Salomão. Conrad por um momento olhou para Allan temendo o jovem estar assustado com aquela criatura, mas depois olhou firme para o demônio, apesar de estar ironizando.
- Certo, eu sinto muito por te incomodar, já quenão quer fazer acordo algum, eu faço questão de te mandar pra casa. Fratello, abra o livro.
-HÁ HÁ HÁ HÁ HÁ HÁ HÁ! Eu não vou para casa! Pelo menos nãosozinha, Conradinho!– A garota lambeu os lábios de forma obcena. –Dessavezvocêcaiu na armadilha.

O padre não entendeu bem o que aquela criaturanefasta estava dizendo até a menina parecer olhando para algo acima do ombro deles. Quando o franciscano virou-se para trás, estava um homem parado atrás deles como um segurança, todo vestido de preto. Em um piscar de olhos, as córneas do rapaz enegreceram. Ele estava possuído. Era o homem que Allan tinha visto antes.

 

- Você vê? – A garota continuava. – Dessa vez, você atenderáas minhasvontades para sairmos todos bem daqui. Inclusive, se fizersua parte, eu prometo ajudar seu novo namoradinho a desfazer a maldição que Henry jogou nele. O que acham? Conversarmos como gente grande ou derramaremos sangue como os bárbaros? – E deu um sorriso extremamente amável no final,olhando de um padre para o outro, animada.

 

 

2x08 - ALLAN:

 

A pior coisa que poderia acontecer ali era a situação sair do controle eConrad não “estar ali” pra ajudar o pobre jovem, que pela cara, parecia ter ido ao inferno e voltado. Viu Conrad o olhando, lhe fazendo perguntas, mas tudo que Allan podia ouvir em seu pensamento era “não devíamos estar aqui” ou “melhor voltar pra casa e esquecer isso”, parecia que alguém falava isso em sua cabeça. Levou uma das mãos a têmpora, apertando os lábios, procurando as palavras certas pra tentar explicar aquele desespero astral que só alguém como ele podia sentir. Antes que pudesse dizer algo, Conrad tomou a frente na situação e agiu correto, continuando com o plano. 

 

Ficou observando o outro padre fazer os símbolos, os conhecia não muitobem mas já havia visto em algum livro. Respirava um pouco descompassado, com os olhos no chão, visivelmente ansioso pra aquilo. Nunca tinha participado de nada com demônios, tinha muito risco pra ele e então resolveu se afastar o máximo que podia daquelas coisas. Sentia uma presença, como se alguém o olhasse não de muito longe... então foi interrompido por um foto diante de seus olhos. Fitou o fransciscano, balançando a cabeça positivamente, confiava nele. Abriu o livrinho, sentindo um arrepio forte e chato na espinha e ai, uma voz feminina o fez olhar pra frente: -“ Ele tem razão, Conrad. Não estão mais sozinhos.” 

 

Se aquela garota era um demônio, conseguiria enganar qualquer um. Loirae inofensiva, andava devagar dentro do circulo. Conforme ela virava seu rosto, Allan podia ver sua verdadeira forma horrenda e assustadora. – Então...é assim que vocês ficam longe de Deus... – falo baixinho, dando passospara trás, não estava com a expressão de alguém que morria de medo daquilo, parecia mais indignado com o que via. Ela travou uma conversa com seu amigo, e isso mostrou que ela já o conhecia, o jovem não achou uma boa coisa. Todos os demônios tinham raiva da raça humana, no entanto em particular, aquela mocinha odiava com todas as forças o homem. Não iria se intrometer no assunto, apenas olhava atentamente pra garota, com o livro aberto na página correta.

Quando ela gritou cheia de fúria,Allan engoliu seco olhando para o outro padre, falando baixo – Eu já de devíamos mandar ela pro... algo me diz.. – não deu tempo de terminar de falar viu que Conrad também o fitava, parecia aflito com aquilo mas iria perceber que o jovem estava aparentemente calmo, apesar de seu espírito na estar assim. Respirou fundo olhando as palavras sagradas, esperando o sinal do outro pra falar logo aquilo e acabar com aquela situação desesperadora. Mostrou uma expressão singela de nojo quando a moça lambeu os lábios, só que estava mais preocupado com o que ela falou. Fitou o amigo – Você não acha melhornós corrermos?! – Foi a única coisa que pensou naquele momento, aporcaria da situação já tinha saído do controle. 

 

O Franciscano virou de uma vez, Allanfez o mesmo e pode ver aquela coisa que havia visto na estrada. Por instinto, o jovem se afastou, soltando o livro e olhando para o circulo. A menina ainda estava ali, com um sorriso vitorioso nos lábios. – Ah não... –Resmungou, olhando o amigo que já não era mais ele mesmo. –” Você vê? (...)Dessa vez, você atenderá as minhas vontades para sairmos todos bem daqui. Inclusive, se fizer sua parte, eu prometo ajudar seu novo namoradinho a desfazer a maldição que Henry jogou nele. O que acham? Conversarmos como gente grande ou derramaremos sangue como os bárbaros? “ 

 

Não encontrava nada pra dizer naquele momento. Ele nunca tinha estado daquele lado do problema. Sempre se via fazer as ações dos outros e rezava pra ser salvo ou pra que Deus escutasse suas preces. A vida de Allan era uma maldição, Henry não precisava ter tido trabalho de colocar outro. Enquanto ouvia a voz irritante daquela criatura, sentindo-se vencedora, fitava o livro no chão. Elevou os olhos para o céu, que agora estava nublado. – E quais são as suas vontades... menina? – voltou a olhá-la, queria ter uma ideia brilhante, mas nada de uma ideia se quer. – Por quem Conrad está possuído? 

 

Enquanto a dêmoninha respondiaaquelas perguntas, o padre pensava. Só tinha um jeito de acabar com aquilo. Teria que fazer um acordo ali, não esses de sangue ou entregar sua alma, algo que livrasse o outro daquela possessão, mesmo que o moço tivesse que pagar por isso. Estava acostumado e Conrad, ele sim sabia o que fazer nos momentos de perigo. Aproximou-se do círculo, vendo a mocinha dar alguns passou em sua direção. Os olhos totalmente negros desceram pelo o corpo dele e nos lábios, a jovenzinha trazia um sorriso cheio de luxúria.

 

- Por que você não me tira desse círculo e nós dois podemos... – os olhos voltaram a ficar normais e ela continuou analisar o padre de perto. -... foder como animais selvagens aquimesmo, enquanto o seu amiguinho assiste... que tal?– Allan continuousério, sentindo um incomodo enorme com aquelas palavras. Porém de alguma forma, o jeito como o demônio se portava era bom para seu plano; o jovem apenas moveu a perna rumo a linha do círculo, abrindo uma brecha. A menina sorriu mais, saindo dali e deixando que seu corpo encostasse ao dele. Os lábios rosados aproximavam-se mais e mais dos do padre, então o mesmo apenas suspirou pensando “que Deus me perdoe” – nesse mesmo instante, cravou uma adaga nas costas da garota. Não era uma adaga comum, ela era feita pra expulsar demônios. 

 

O demônio gritou de dor e Allan oempurrou, vendo-o cair no chão e logo em seguida deixar o corpo da pobre loira, indo direto para o inferno. Olhou o sangue na espada e rapidamente levou os olhos para aonde Conrad estava parado. Mas o homem não estava mais lá. Guardou a adaga andando sem rumo ainda, com os olhos cheios de lágrimas, estava se sentindo o pior dos humanos naquele momento. – Conrad... CONRAD! –gritou sem muitas esperanças, não ia fazer com ele o mesmo que fez o a garota Tinha que pegá-lo e fazer o ritual de exorcismo. Abaixou-se pra pegar o livrinho rapidamente. – Seja lá quem você for... é melhor aparecer aqui. – sussurrou, respirando levemente ofegante por ter corrido umpouco. Agora andava devagar, ouvindo todos os mínimos ruídos e barulhos. Estava perto da van...
.

.. Agaichou-se devagar, apoiando ocotovelo no chão e depois o corpo. Olhou por debaixo do veículo e então, pode ver os pés do franciscano do outro lado da van. Era hora de acabar com aquilo. 

 

 

2x09 - CONRAD:

 

Estivera preocupado com seu amigo, Allan parecia ter visto um fantasma. Bem, não era de se contestar essa reação, afinal estavam na frente de um demônio, e apesar do franciscano agir como se já estivesse acostumado com a situação, o jovem padre não estava, e podia ainda estar abalado e traumatizado por ter sido possuído por Henry menos de 24 horas atrás. Apesar de não conseguir ver a forma horrenda e original da garota como Allan, Conrad sentia a energia suja e negra que ela emanava, conseguiria enganar os humanos, menos aqueles dois ali.

Conrad olhou para Allan num sinal de que o rapazpodia começar o ritual de exorcismo, aquelas frases bonitas em latim, mas tudo foi interrompido quando sentiu algo mais, olharam para trás e... De repente, ele ficou inconsciente de si, sentiu-se turvo, zonzo. Quando abriu os olhos novamente, estava vendo embaçado e se sentia paralisado. Estava tremendo, sua alma parecia pegar fogo, e por mais que mandasse o corpo falar e se mexer, ele não fazia. Ele já tinha sentido isso uma vez, quando encontrou Maritta Covarrubias Coyne numa estrada abandonada... Estava sendo possuído.

O Mal fazia parte dele agora. Quando Allan perguntou para a menina por quem o padre estava possuído, este virou os olhos para ele, completamente negro, e deu um sorriso malicioso, a voz sempre mansa de Conrad saiu mudada, quase grosseira.

-Somos legiões, porque nós somos muitos!
E gargalhou algo, mostrando os dentes, virando orosto para assistir aquela cena. A garota perguntava se Allan não queria um sexo selvagem e o “padre” ria sem pudor, apertando os próprios meios por cima da batina, como se estivesse masturbando-se, esfregando-se. -Estou louco para assistir isso.

”Não, não, Allan, não!” – Conrad clamou dentrode sua própria cabeça quando viu o jovem abrindo uma fresta na Chave de Salomão e deixando a demônio sair. Mas, nada saiu de sua boca, pois quem controlava seus lábios era o espírito maligno. Esse só sorria.

Estavam crentes que iriam se beijar e selar umpacto, quando uma lâmina atravessou o corpo da jovem, expulsando o demônio do corpo dela e matando a garota que ainda estava dentro do corpo. Imediatamente, o que estava possuindo o corpo de Conrad desapareceu com ele junto. Ofegando, correndo, perguntava-se onde o rapaz tinha achado aquela lâmina nas mãos. Mas, antes que pudesse planejar qualquer coisa, atrás da Kombi velha, poucos metros afrente de Allan, sentiu aquela dor horrível começar.
- AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAARHHHHHHHHH!!!- O corpo caiu no chão, tremendo, comoque convulcionando. O demônio no corpo do padre levava a mão à cabeça, contorcendo-se, sendo torturado. -FAÇA ELE PARAR, FAÇA ELE PARAR!!!!!-Rosnava em grutual com voz assustadora, rolando pelo chão, grunhindo, gritando e batendo a cabeça contra o asfalto até sangrar a têmpora. -PADRE IDIOTA, PADRE ESTÚPIDO IMBECIL VIADO DESGRAÇADO PORRA FILHO DA PUTA INFERNAL FAÇA ELE PARAR FAÇA ELE PARAR!

”Exorcizamus te, omnis imundus spiritus, omnissatanica potestas...”
 

-FAÇAESSE FILHO DA PUTA PARAAAARRR!- Seus olhos turvos e negros ergueram-se, lacrimejando, vendo uma figura de batina preta na frente dele. Aquele desgraçado tinha matado seu senhor com uma espada de anjo! Rosnou, partindo para cima dele com toda a fúria, nocauteando Allan, derrubando-o no chão e virando ele de barriga para cima, levando as mãos à garganta do rapaz, procurando enforca-lo, estrangulá-lo com as mãos. Mostrava os dentes rangendo de fúria, os olhos negros e o rosto vermelho. Vez ou outra parava de estrangular porque fraquejava, rosnando de dor, gritando. Espírito e demônio estavam lutando dentro do próprio corpo do possuído. Conrad, em sua mente, recitava o ritual exorcista de dor, tentando expulsar o demônio do seu corpo, deixando chance para que

Allan acabasse logo com aquilo.

 

2x10 - ALLAN:

 

Era exatamente aquilo, uma espadadada por um arcanjo na verdade, seu nome era Ezequiel. O jovem padre sentia suas mãos tremerem, estava fraco e exausto, nunca tinha passado por coisas tão assustadoras como aquilo que estava acontecendo diante de seus olhos. – Meu Deus me ajude... – foi o que disse quando ouviu a gritaria estranha, vindo do corpo de Conrad , mas não era o pobre padre. Enquanto olhava aquilo de longe aquela cena assustadora, entrou de trás da van. Tinha que se esconder dele, esperar a hora certa de pegá-lo. Limpou o rosto sujo e molhado por conta das lágrimas com o antebraço. Pegou a adaga que usou pra expulsar o demônio e a jogou pra bem longe dali. Se por algum acaso o demônio tomasse se visse na melhor na briga, provavelmente chantagearia Allan com aquela arma, ameaçando matar seu amigo. No entanto, quando se virou pra jogá-la pra, viu a cena da menina sem vida no chão. Aquela culpa o seguiria para vida toda. Sua cabeça estava confusa, seus olhos ardiam. Todos esse anos, o menino que falava com Deus fez de tudo pra ficar o máximo possível longe daquelas coisas. E agora tinha que enfrenta-las... 

 

E errou novamente. Enquanto sua mentetorturava sua alma com aqueles pensamentos, o mesmo não viu que o demônio vinha traiçoeiro por trás dele. Quando percebeu, já estava no chão com o padre por cima dele, o enforcando. Segurou os pulsos dele com força, se remexendo embaixo dele, o cara estava forte, bem mais forte do que de costume. O demônio ainda reclamava quando o espírito de Conrad o exorcizava de dentro pra fora, mas Allan não sabia e não entendia o que estava acontecendo. Teve que partir pra cima. Deu um murro forte e certeiro no franciscano que o tirou de cima dele por alguns segundos, tempos suficiente pra que ele virasse contra o mesmo e lhe desse uma chave de braço. Queria desmaia-lo de alguma forma, pra que pudesse leva-lo pra longe dali, em um lugar seguro pra poder fazer o primeiro exorcismo de sua vida. 

 

Só que ele não esperava pelaesperteza do espírito condenado. Recebeu uma cotovelada no estomago e caiu no chão gemendo de dor. Ele veio pra cima de novo, bem mais raivoso que antes. As forças físicas do jovem já estavam extremamente debilitadas. Sua visão estava ficando embaçada e recebeu as mãos do outro em seu pescoço, voltando a estrangulá-lo com bem mais empenho que antes. A respiração ficou descompassada, assim como as batidas do coração. Mesmo assim, ele segurou com força os pulsos de Conrad.

 

– Lute! Eu não... – puxava as mãos dele, numa tentativa frustrada de tentar tirá-lo de cima de si. E tudo que ele via agora era poeira da estrada árida e o sol brilhante e desforme no céu. Procurava o ar mais não o encontrava. Os olhos extremamente azuis fitaram a estrada e pareceram ver alguém de branco. E tudo ia acabar daquele jeito...? não viu apenas uma pessoa, mais algumas espalhadas em volta, todas de branco. Como sua visão estava embaçada, não tinha como saber quem eram. Ele estava desmaiando...

 ... então teve um sonho. Nesse sonho rápido e confuso, alguém dizia pra ele não desistir. Dizia que ele podia acabar com aquilo agora. Foram milésimos de segundos, enquanto aquela voz desconhecida o encorajava dentro de sua mente. Os olhos entre abertos, fitaram os negros da possessão e então, Allan elevou a mão com dificuldade e colocou na testa do amigo. Nesse instante o demônio deixou de estrangulá-lo como estava e ficou a olhá-lo. Os lábios secos se abriram devagar pra que o moço dissesse algo – Volte... de.. onde você veio. Eu... ordeno em nome de Deus. – No mesmo instante, Conrad ergueu seu corpo violentamente e olhou para o céu. Sua boca se abriu e aquela uma fumaça extremamente negra saiu indo direto para o chão e sumindo. Ele caiu pra trás, talvez desmaiado. O jovem padre sentiu uma lágrima escorrer por seu rosto, não conseguia se mexer naquele momento. Estava perdendo os sentidos novamente. Pelo menos era isso que achava. 

 

 22:30 da noite – Hospital Centralde Bayville.

 

Uma maca era empurrada com desespero pelo corredor. Dois médicos estavam em volta e quatro enfermeiros. Um dos médicos gritava ordens, sem paciência, até que chegaram a sala certa. 
- A pressão está caindo rápido, doutor...

- Tragam o desfibrilador,rápido! Coloque no máximo! - o médico suava frio, enquanto umasdas enfermeiras rasgou a blusa do rapaz, o médico ministrou a descarga máxima sobre o peito de Allan. Seus batimentos não voltaram com aquela primeira tentativa. Um outro médico, entrou na sala as pressas, Miguel conhecia o jovem padre.


- Mas que porcaria é essa!– disse assustadoao ver quem estava ali – Me dê isso agora e aumente a frequência! – prontamente aenfermeira obedeceu e o mesmo mandou outra descarga mais forte para o corpo do moço. Sem resultado. O desespero era evidente no rosto de Miguel, o que fazia com que os outros na sala ficassem sem reação.
- PELO AMOR DE DEUS NÃO FAÇA ISSO COMIGO, ALLAN!– gritou desesperado, dando outra descarga do mesmo nível 

 

E lá estava o jovem Lion’sheart no corredor. Olhando aquele longo e vazio corredor. Seus olhos calmos e serenos fitavam o homem vestido com o hábito, sentando no chão encostado na parede. Conrad estava sangrando, machucado, com as mãos sujas e cheias de hematomas também. As lágrimas escorriam por seu rosto. Ele estava acabado. Mas bem longe de qualquer coisa ruim. Allan havia expulsado o demônio dele com apenas um toque e a sua fé. Ele nunca estivera tão limpo. 

 

Os gritos ainda continuavam na sala ao lado:

 

- O QUE EU VOU FALAR PRO IRMÃO DELE?! – O médico passou as mãos bambas sobre os cabelos negros, sentindo o rosto ferver ainda sem acreditar no acontecia. – Meu Deus do céu... meu Deus...- uma das enfermeiras pegou a prancheta, cabisbaixa – Acho que devíamos... 

 

Allan abriu os olhos e respirou fundo levando a mão ao peito. Todos se assustaram e a máquina que já estava fazendo aquele barulho típico quando a pulsação some. O ritmo normal voltou. Ele respirava ofegante, uma das enfermeiras rapidamente colocaram uma máscara de oxigênio. Miguel sorriu e viu a porta se abrir devagar. Lá estava o franciscano. Ele o olhava com os olhos cheios de água. Um sorriso cansado surgiu nos lábios.

 

 

 

2x11 - CONRAD:

 

1. O PASSADO.

Mal lembrava-se das coisas que haviam acontecido.

Não tinha controle sobre seu corpo, sua visão estava turva, vendo flases do que estava fazendo, sem poder parar ou mudar o curso das coisas. Parecia um sonho desagradável. Lembrava-se apenas de que sentia uma raiva grande e avassaladora, algo que nunca sentiu antes na vida, por ninguém! Estava tão furioso com Allan, tão furioso, que sentia que devia mata-lo! Mas, ao mesmo tempo, dizia para si mesmo, aquilo era o demônio que o possuía, não ele. Ouviu uma gargalhada horrível em sua cabeça. “Você virou uma marionete do Diabo, padre! HÁ HÁ HÁ HÁ HÁ HÁ!” e foi a partir daí que começou a rezar baixo em sua cabeça, todo ritual do exorcismo romano. Como compreendia aquelas palavras além de memoriza-las, elas saíam claras em sua mente.

“Reinos da terra
Cantem para Deus
Rezem para o senhor
Que vocês louvam acima do céu do Paraíso, ao leste
Eis que ele envia sua própria voz
A voz da virtude
Atributo da virtude de Deus!”

- AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAARHHHHHHHHH!!! - O corpo caiu nochão, tremendo, como que convulcionando. O demônio no corpo do padre levava a mão à cabeça, contorcendo-se, sendo torturado. - FAÇA ELE PARAR, FAÇAELE PARAR!!!!! - Rosnava em grutual com voz assustadora, rolando pelochão, grunhindo, gritando e batendo a cabeça contra o asfalto até sangrar a têmpora. - PADRE IDIOTA, PADRE ESTÚPIDO IMBECIL VIADO DESGRAÇADO PORRAFILHO DA PUTA INFERNAL FAÇA ELE PARAR FAÇA ELE PARAR!

“Nós te exorcizamos, todo espírito imundo
Todo poder satânico
Toda incursão do adversário infernal
Toda legião
Toda congregação e seita diabólica
Vós, demônios amaldiçoados
E toda legião diabólica
Nós vos esconjuramos!
Pare de enganar as criaturas humanas
E de dar-lhes o veneno da eterna Perdição!”

- FAÇA ESSE FILHO DA PUTA PARAAAARRR! - Seus olhos turvos enegros ergueram-se, lacrimejando, vendo uma figura de batina preta na frente dele. Aquele desgraçado tinha matado seu senhor com uma espada de anjo! Rosnou, partindo para cima dele com toda a fúria, nocauteando Allan, derrubando-o no chão e virando ele de barriga para cima, levando as mãos à garganta do rapaz, procurando enforca-lo, estrangulá-lo com as mãos. Mostrava os dentes rangendo de fúria, os olhos negros e o rosto vermelho.

“Vá embora, Satanás, o inventor e mestre de todo o engano
O inimigo da salvação da humanidade.
Seja submisso sob a poderosa mão de Deus
Treme e foge – Eu invoco por nós, o nome sagrado e terrível - Sob os quais treme.”

Vez ou outra parava de estrangular porque fraquejava, rosnando de dor, gritando. Então recebeu um soco no meio do nariz, nocalteando não apenas o demônio, mas o padre que estava dentro dele, interrompendo o exorcismo. Quando sentiu o braço do padre o envolvendo, em um mata-leão, tudo se silenciou na cabeça dele. “Eu vou mata-lo”, dizia o espírito para Conrad, “vou beber o sangue desse imbecil e possuir o cadáver dele!!” – “NÃO!!” – Destemido, o demônio deu uma cotovelada nas costelas de Allan, derrubando-o e rugindo. Mais uma vez, suas memórias se enfraqueceram. Viam suas próprias mãos no pescoço de Allan. Ouviu ele dizer.
- Lute. Eu não... – E não conseguiu completar. Conradcontinuou.

“Das ciladas do demônio, livre-nos, Senhor!
Para que você talvez possa fazer sua Igreja salva para serví-lo livremente
Nós te pedimos, ouça-nos!
Para que assim possa destruir os inimigos de sua sagrada Igreja
Nós te pedimos, ouça-nos!”

O demônio rosnava de dor, sua cabeça virava-se e sacudia-se em movimentos rápidos sobrenaturais, soltando rugidos animalescos. As mãos foram folgando do pescoço de Allan, os olhos foram se revirando para trás até ficarem completamente brancos.

“Deus está terrificado sobre seu próprio lugar sagrado, O Próprio Deus deIsrael terá impulsionado excelência
E força para Seu Próprio Povo. Bendito seja Deus. GLÓRIA AO PAI!”

Sentiu a mão ungida e pura de Allan queimando sua testa e lhe causando uma tremedeira horrível, como se seu corpo estivesse pegando fogo. Ouviu o rapaz dizer.
- Volte... de.. onde você veio. Eu... ordeno em nome de Deus.
Conrad gritou logo depois, dentro de sua mente.

“AMÉM!”

 

O corpo ficou ereto de joelhos em cima de Allan, a cabeça virou para oscéus. Ele viu coisas terríveis, coisas que faria até o mais corajoso homem tremer. Eram anjos, com suas asas pegando fogo, voando em volta deles. Sua boca se escancarou e aquele espírito maligno foi sendo vomitado para fora. As imagens em sua cabeça ficavam confusas, perdiam-se, via rostos horríveis cadavéricos, outros resplandecentes e dourados, pegando fogo, com luz, muita luz em volta. Depois, tudo se apagou. Quando abriu os olhos, estava deitado no chão, com o corpo cansado e mole. Seus olhos estavam pesando e implorando para dormir, mas um lapso de lembrança o acordou.
- Allan.

 



Ele levantou o corpo, engatinhou até o amigo e oviu desacordado ali.
- Não, não, não... Allan, acorda... – Davatapinhas no rosto do rapaz. Passou a mão no nariz dele. Ele não estava respirando. – Não, não, por Deus, não!

Desnorteado, cambaleou até a Kombi e puxou seucelular do parabrisa do carro. Discou os números, trêmulo.
- 911, qual sua emergência?
- E-le ele vai morrer, por favor, chamem uma ambulância rápido, e-ele não está... – A voz embargada. – Ele não está respirando, NÃO ESTÁ RESPIRANDO! Por favor, eu preciso de uma ambul...
- Senhor, se acalme, enviaremos viaturas, me diga o endereço.

2. O PRESENTE.

 

Seus olhos estavam embaçados de lágrimas que às vezes rolavam no rosto,às vezes continham-se nos olhos, empatando a vista. Sentia-se tão mal quanto nunca havia se sentido antes. Estava esperando do lado de fora da sala de cirurgia. Um pobre padre, de hábito marrom farrapeado, com o crucifixo enrolado nos pulsos de mãos juntas. Não sabia fazer mais nada além de rezar pela alma de Allan.
- P-pai nosso q-que estais no céu... Ss-an... Santificado s-seja Vosso nome... Venha a nós ao Voss-sso Reino, seja feita a V-vossa vontade, assim na Terra, como no Céu... O p-pão noss-sso de ca-cada dia nos dai hoje... Perdoai... – Então começou a chorar baixinho, com a voz embargada. O rosto encolheu-se de dor, franzindo a testa e deixando as lágrimas caírem. – Perdoai... As n-nossas... Ofensas...

Não conseguiu mais continuar. Era culpa que oabatia. Se mais um jovem inocente fosse morto por sua culpa, não sabia o que ia fazer. Com os cotovelos apoiados nos joelhos, ele curvou o corpo e cobriu o rosto com as mãos feridas e arranhadas, soluçando baixo.

“Ele vai ficar bem. Deus nunca permitirá que o Diabo mate o homem”

Ezequiel estava parado de pé ao lado de Conrad. Obviamente o padre não podia ver o arcanjo vestido de armadura medieval e asas prateadas ao seu lado no corredor. Mas quando os olhos azuis da figura alta e rígida viram Allan parado no meio do corredor também, caminhou até ele segurando seu helmo medieval com a mão. Seus olhos estavam brilhando como estrelas. Ele colocou a mão na testa do jovem padre que continha a sua espada celestial e rogou.

“Volte pro seu corpo agora, acólito”

 

Conrad sentiu um arrepio na coluna, tirou asmãos do rosto choroso e olhou em volta. Estava sozinho no corredor. Mas sentia um calor aconchegante, como um abraço morno em seu peito, uma calma, alívio, paz.
- Ele está bem... – Disse como que numa certeza,de repente, sabia disto. – Eu sei que está. – E em sua cabeça repetia. Deus está conosco e eu posso sentir. Ele vai se salvar, misericordioso seja nosso Pai.
Em segundos, a porta se abriu e ele olhou omédico com o rosto também molhado de lágrimas. Quando o médico sorriu para ele, o franciscano alargou o sorriso, numa felicidade plena, que não cabia em si.
- Grazie, Dio, grazie, Dio! Dio Santo! – Riu choroso, levantando-se e indo até o médico. – Ele está acordado? Eu posso vê-lo?

-PARADO AÍ, NÃO SE MOVA!– Umgrito feminino veio atrás de si e o arrepiou na coluna. Quando virou-se de costas, viu aqueles homens de terno e colete a prova de balas, apontando armas na sua direção. –SOMOS DO FBI, ESTE HOMEM É UM ASSASSINO EM SÉRIE E FUGIUONTEM DA CADEIA! TOMAS, SE VOCÊ SE MOVER, NÓS ATIRAMOS!

Conrad sentia o coração bater forte,descontrolado, como se estivesse tendo uma crise de pânico. Não conseguiu correr ou sair do lugar. O agente do FBI negro e alto o jogou com violência contra a parede, puxando suas mãos e algemando, murmurando em seu ouvido.
-Seu doente, o que fez com o padre que foi dar sua extremaunção? Homens como você vão pro inferno!
- Não, não, eu preciso ver ele! – Dizia irracional,sem conseguir convencer ninguém. Olhava o médico desesperado. – Eu preciso ver ele, eu preciso saber se ele está bem! ME SOLTA, ME SOLTA! – Esperneava, enquanto era apossado por agentes do FBI que o arrastavam pelo corredor pra longe de Allan. Estava sendo preso novamente.

 

2x12 - ALLAN:

 

“Todos estavam lá,todos sorriam e tudo estava finalmente bem. Sentia o vento tocar seu rosto, não sentia dor, não sentia medo ou angustia. E quem estava com ele ali, naquele gramado verde, perto daquelas árvores floridas e do lago tão transparente que era possível ver carpas, estava tão felizes e saudáveis, que era possível perceber tal paz nos olhar de cada um. Seu pai, Edward, Conrad, alguns amigos... todos que amava. Quando virou o rosto, uma alegria ainda maior completou o seu espírito: lá estava sua mãe. Tão linda e santa como sempre foi. Os cabelos compridos castanhos, o olhar azul que sempre lembraria o seu próprio... sentiu as lágrimas de emoção vir a tona e andou mais rápido pra poder abraça-la. Só que uma voz o obrigou a voltar...” 

 

 

 

“Volte pro seu corpo agora, acólito”[...] – E foi nessemomento que Allan sentiu uma dor insuportável no peito, puxou o ar com força pros pulmões. Sua vista estava meio embasada, sentia o corpo formigar, só que aos poucos foi voltando a si. Podia ouvir a alegria dos médicos e enfermeiros em volta, sentiu as mãos do médico mais velho lhe tocar e sorriu, virando o rosto, procurando o amigo, sentia-se preocupado mas sentia que ele estava bem agora. Viu a porta se abrindo, já estava bem melhor, ainda que com o corpo doendo e muito cansado. Seu sorriso se alargou quando ouviu a voz de Conrad, queria se levantar, porém uma das enfermeiras o segurou: - Senhor, é melhorficar deitado... você.. – Allan deixou de sorrir, queria ver o franciscano, continuouinsistindo em se levantar. – E.. eu preciso ver um amigo, ele metrouxe... onde...– A mulher torceu os lábios, não iria soltá-lo por issoolhou para os médicos desconcertada. Miguel se aproximou, dando um abraço nele com os olhos mareados: - PADRE! Deu o maior susto da minha vida! Quem foi que fez isso com você?! – o jovem correspondeu ao abraço e se exaltou quando percebeu que o FBI o barrava, chamando-o de outro nome, certos de que ia prendê-lo novamente.

 

 - NÃO! – ele gritou,assustando o amigo médico que se afastou de uma vez. Allan desceu da maca, quase caindo no chão, só que recuperou seu equilíbrio, se aproximando do homem negro que gritava e prendia Conrad. – Pare! Não o prendam! – O cara se virou, com um semblante confuso. Os outros  agentes, continuavam com as armas levantadas, no entanto abaixaram a guarda no momento em que padre gritou. – Conrad... - Aproximou-se dele, sorrindo sereno e o olhando todo machucado daquele jeito. Fez cara de tristeza, o mulato bradou de novo, segurando no ombro do Lion’sheart, o afastando do outro.  Se afaste padre,esse homem é um assassino seja lá o que aconteceu foi culpa del... – Allan não odeixou terminar. – Escute, esse homem me salvou! - Todos que estavam em volta olhavam com curiosidade. Miguel cruzou os braços e franziu o cenho tentando entender o que o jovem falava. – Ele me ajudou a escapar de uns caras que estavam me batendo, um deles me enforcou e.. e o Conrad partiu pra cima dele pra me salvar! 

 

Aquilo tudo parecia verdade, mas opolicial o olhava com desconfiança. Seus olhos escuros observavam a forma como contava a história e vez ou outra fitavam o outro padre com certo ódio incrustado.- Ele, ele salvou a minha vida, se não tivesse ligado praambulância, eu estaria morto agora... eu juro... – disse, segurando na roupa do cara que também olhava pra isso com um pouco de incomodo. Soltou Conrad, deixando mas livre da parede, só que o mesmo continuava com as algemas. – Desculpe padre Allan, ele pode realmente ter te salvado, acredito emvocê... – falou um pouco descrente, já que não conseguiria acreditar que talvezum homem como ele estivesse mentindo. – Mas esse nosso amiguinho aquijá matou muita gente. Você não tem ideia. – Allan se sentiu derrotado,seus olhos imploravam para que o homem deixasse Conrad livre. Não desistiu de convencê-lo. 
- Por favor.... não posso deixar que prenda uma pessoa que salvou a minhavida.  - Os médicos e enfermeiros estavam aparentemente comovidas coma forma como Allan falava do amigo. Um pouco de toda aquela encenação parecia ter comovido o chefe deles. O mesmo suspirou e olhou para os seus subordinados, pensando durante alguns longos segundos. Olhou para as mãos presas dele e então, depois de ficar com os olhos fixos ali ainda indeciso, soltou as mãos dele.

 

 - Ok, ok. Você me convenceu só que é o seguinte: estou vendo que o cara está machucado e vou deixar que ele fique nessa sala pra que os médicos cuidem dele. Só que vocês não vão sair daqui, vou ter que falar com meus superiores. E Allan, você terá que contar essa história muito bem depois para os investigadores. Assim como você... “Conrad”. – Disse totalmente descrente, fazendo um gesto com a mão pra paraque abaixassem as armas. A turma do FBI foi saindo aos poucos, até que só os dois e os que trabalhavam lá ficassem ali. Allan suspirou, se aproximando do franciscano e lhe dando um abraço apertado. – Me desculpe por isso, eu,eu não queria que fosse assim... – sua voz estava trêmula, sentia-seculpado por Conrad voltar a ser preso. Se toda aquela história tivesse dado certo, o amigo estaria bem longe dali e seguro. – Vamos dar um jeito,pode acreditar. – Se afastou sendo convidado pelas enfermeiras a sesentar, elas fizeram o mesmo com Conrad.

Quando tudo se acalmou, os tirasforam embora e não tinha mais ninguém do FBI ali por perto pelo menos, Miguel – o médico amigo de Allan – pediu pra que as enfermeiras saíssem dali e deixasse eles a sós naquela salinha. Allan estava sentado na maca, parecia melhor apesar de aparentemente muito cansado. O jovem de cabelos escuros e olhos verdes se sentou perto do franciscano pra limpar seus machucados. – Não foi brigacoisa nenhuma, não é? - o sorriso dele era amigável, ainda que quase imperceptível.Dukíer tinha uma ideia de quem era aquele homem na sua frente. Allan já tinha falado dele, por isso o médico sabia que aquela história contada pelo o padre mais jovem era tudo invenção. Enquanto colocava as luvas de látex brancas e molhava um algodão no soro para limpar o machucado, falava com ele em um tom um pouco mais baixo – Allan foi possuído de novo? 
Começou a limpar, ele ia sentir uma leve ardência, mas nada que se comparasse ao que os dois tinham passado.

 

2x13 - CONRAD:

 

Conrad sentia o coraçãoapertado. Não se importava em ser preso consigo mesmo, conformista como era, se fosse preso, iria pacientemente aceitar a sentença de morte, morrer na cadeira elétrica e ressuscitar mais uma vez em alguma cova rasa de indigente. Mas eles não tinham tempo para isso, era em Allan que pensava, Henry havia amaldiçoado o garoto antes de ir para os céus absolvido por Conrad, e eles tinham de quebrar aquela maldição, eles tinham de parar com aquilo o mais rápido possível!

- ME SOLTA, JÁ DISSE PRA ME SOLTAR!

-Se acalme, seunervosinho, olha como fala com oficiais!– O agente jogava Conrad na parede, oalgemando.

Foi assim que ouviu a voz de Allan e virou o rosto, deitando o rosto amassado contra o azulejo, com as mãos para trás sendo preso, ofegante.

“Não! Pare, não o prendam!”

Ouvia o agente discutindo com o amigo. Seu coração doía e acabou sorrindo fraco ao ver que o padre estava bem. Então enfatizou o que Allan dizia.

- E-eu posso ter cometido muitos erros, m-mas eu nunca machucaria ele, ele é meu amigo... Oficial. – Ressaltou, engolindo seco.

 

O oficial não gostava nada doque estava acontecendo. Queria prender o serial killer, mas Allan insistia para soltarem Conrad agora. O franciscano apenas olhava, quieto, esperando decidirem o que iriam fazer com ele. Sentiu-se aliviado quando o homem afastou de si, deixando ele respirar e pode se virar na parede, ficando encostado de frente, olhando Allan se resolver com os agentes. Enfim, ele convencia o negro a soltá-lo. O italiano alisava os pulsos, sentindo alívio de não ter mais algemas ali, ouvindo que só teria um tempo para ser cuidado pelos médicos e falar com o amigo, mas que não sairia dali sem ser preso. Precisavam então decidir o destino de Allan naqueles poucos minutos.

- Grazie, signore... – Disse baixinho ao oficial, e abaixou os olhos quando o homem falou seu nome “Conrad” com descrença, insinuando ser um nome falso e ele enfatizou essa opinião dele ao desviar os olhos daquele jeito, envergonhado.

Finalmente, quando estavam sozinhos, ele pôde abraçar forte o amigo. Fechou os olhos, deixando algumas lágrimas caírem e soltou Allan quando o rapaz começou a pedir desculpas.

- Não, não, me desculpe você! Eu... Eu te meti em coisas que deram errado, você podia ter morrido, por minha culpa, Allan! Nunca mais vamos fazer isso de novo, eu prometo, nunca mais. Vamos arranjar outra forma de te ajudar, tem minha palavra. Mas não dessa forma. – Não com demônios novamente, ele quis dizer, mas havia ainda médicos e enfermeiros ouvindo a conversa.

 

Foi convidado a sentar em uma maca ao lado de Allan para ter seus ferimentos tratados. O médico parecia ser bastante amigo dele. Enquanto o homem limpava sua têmpora ferida, ouviu aquela pergunta de repente.

“Não foi briga coisa nenhuma, não é?”

Conrad parou, olhando o médico boquiaberto, sem saber o que falar, de cenho franzido. Olhou Allan com aquela dúvida. Então, como sempre era desconfiado e paranoico, pelos anos de experiência, meneou a cabeça.

- Ah... Eu não sei do que está falando. Foi sim, uma briga e...

“Allan foi possuído de novo?”

Ficou alguns segundos em silêncio. Parecia mesmo que o cara sabia o que tinha acontecido e que podia confiar nele. Olhou para Allan de novo, esperando algum sinal de que podia falar a verdade, e então abaixou o rosto, envergonhado.

- Não... Eu fui... – A voz quis embargar, mas ele conseguiu controlar. – E-essas marcas no pescoço dele... São de minhas mãos... A... A culpa foi minha. – Os olhos se encheram de lágrimas, mas nenhuma caiu, ele se continha. – Eu que tive a ideia de invocar um demônio da encruzilhada para nos ajudar e... Ele tinha um capanga fora da nossa armadilha, que tomou meu corpo. Allan foi forçado a libertar o demônio, ele fugiu, mas o que possuía meu corpo foi exorcizado. – Contava tudo pausadamente, franzindo a testa com o ardor que tinha. – Estamos tentando quebrar uma maldição. Não temos muito tempo, eu vou sair daqui preso, precisamos resolver isso logo, é a vida dele que corre perigo, não a minha. – Olhava Allan compadecido. Era um rapaz, tão jovem, não ia aguentar se morresse por falha dele. – O doutor é um caçador também? Tem como nos ajudar? Eu me lembro das palavras que Henry disse... Amaldiçoando o ragazzo, como se fosse ontem, mas eu não faço ideia do que significam, estava numa língua desconhecida pra mim. Eu não sei o que ele disse, portanto, AH! – Gemeu baixo quando começou a costurar seu corte. – Portanto não sei que tipo de praga ele jogou. E o demônio também não nos disse.

 

2x14 - ALLAN:

 

A última coisa que o jovem padrequeria era ver uma pessoa como Conrad ir preso e ser condenado à morte. Não existiam muitos como ele, caçadores sim, mas não alguém que acredita em Deus como ele. Sentiu um alívio muito grande quando os federais acreditaram nele e aquele abraço foi reconfortante. Não o culparia nunca, se tinha decido fazer aquilo era por que sabia que existiam chances de descobrir qual maldição o espírito havia colocado em Allan. Sentiu-se bem melhor quando ficaram só ele, Miguel e o franciscano ali. 

Sentou-se em uma outra maca, seucorpo todo doía. Mas no final das contas, lá estava ele vivo. Lembrava-se vagamente da voz que o impediu de ir de uma vez por todas. Só prestou atenção na voz do amigo médico, quando ele começou a falar abertamente daquelas coisas com Conrad. Franziu o cenho e ficou a observá-los e então, recebeu o olhar de desconfiança do amigo. Sorriu e meneou a cabeça, um sinal pra que ele acreditasse em Dukìer. O médico era amigo de longa data e sabia de todos o problemas de sua vida. Enquanto fazia seu trabalho, o pálido moço de olhos verdes prestava bem atenção nas palavras de padre mais velho. Não mostrou descrença, apenas ia mudando as feições conforme a história se mostrava mais macabra.

- Well, uma coisa eu sei, maldições nunca são bobinhas.

 Aquilo era óbvio, por isso oalemão sorriu quase rindo e dando uma olhada em Allan. – Calma ai padre 2,eu vou só terminar com ele e já te dou uma remedinho pra dor. Você quase morreu acho que pode aguentar. – O loiro quis sorrir, mas estava muitocansado mentalmente e em seu físico. Dukìer continuou: -Não, não soucaçador. Mas com certeza vou ajuda-los. Você por acaso se lembra das palavras? Teve uma época que eu estudei uns livros ocultos, pra resolver uns problemas particulares... – conversava com ele como se o conhecesse a um bom tempo – Se você lembrarmais ou menos, posso fazer uma pesquisa bacana na minha biblioteca. – começou acostura, antes tinha passado uma pomada que amenizava a dor. – Me explica comovocês foram parar nesse história de maldição.

Terminou com o homem, indo até aporta e trancando, não queria ninguém entrando lá de supetão. Foi até o armário de remédios e pegou um para dor, entregando um ao homem e outro ao padre. Pegou dos copos de água e deu um pra cada. Arrumou o jaleco, suspirando e falando por fim. – Conrad, eu acho que eu posso te livrar de ir pra cadeia. Aliás, vocêvai fazer seu trabalho bem melhor se não estiver não morto. – brincou dandoum sorrisinho – É o seguinte, eu tenho uma ideia pra tirar você daqui. É meio louca,mas eu também sou. – se aproximou dele pra falar mais baixo. – Eu tenho umasdrogas aqui que podem te matar. Dependendo da quantidade, te deixar em um como tão profundo que vão achar que você está morto. – Explicou,desviando o olhar pro outro padre. – Só que eu também tenho o “antídoto”desse remédio. Então, o plano é o seguinte: 

 Ele se afastou de novo, ajoelhando-se no chão e puxando uma caixadebaixo do armarinho de vidro uma caixa de cor escura. Abriu, mostrando os pequenos vidros com um líquido transparente dentro. – Eu te aplico issoe você vai direto pra sala morgue. E logo depois, eu vou lá pra te acordar e nós darmos o fora daqui. É simples e vai resolver a vida de todo mundo. – Allanparecia aflito, segurava o copo de plástico com as duas mãos. – Mas..mas tem certeza que isso é seguro? – Miguel fechou a caixa e sorriuamigável.– Eu sou médico. Fique tranquilo.  Então, o que me diz, padre? Topaessa? 

 

Eles tinham aquela ideia maluca equalquer alternativa que tivesse como fim, o franciscano na prisão. O jovem padre suspirou e levou à mão a têmpora, já estava preocupado com aquilo. 

- E o que eu vou fazer? 

- Boa pergunta. Você vai direto promeu apê, você sabe onde é. Vou te dar a chave e você vai pra lá. É que eu tenho alguns livros na mansão, mas os melhores estão lá. - Allan ficou pensativo e sem mais perguntas. O médico fitou os olhos verdes claros nele, torcendo os lábios. – Se você tiver outra ideia melhor,me conte, por favor.

 

2x15 - CONRAD:

 

Quando Allan lhe deu um sinal de que poderia confiar naquele rapaz médico na frente deles, o padre assentiu de volta e começou a contar tudo que havia acontecido. Via o rosto de desaprovação de Miguel e começou a contar toda a história, enquanto o médico agora cuidava de seu amigo. Seu rosto não estava feliz, apesar de aliviado por terem chance de reverter a situação.

 

- Eu estava investigando um caso misteriosos no presídio. Parecia que os presos estavam sendo mortos dentro de suas celas com AVC... Acidente Vascular Cerebral, além de outras particularidades das mortes. Os policiais achavam que era acidente, mesmo tendo mais de 10 vítimas morrendo igual. Outros presos acreditavam que alguém estava envenenando eles... E uma pequena parcela acreditava em uma assombração, de um assassino que estava lá. Enfim, eu meio que, ahm... Eu fui preso de propósito para poder investigar. - Sentiu-se tão idiota quando confessou isso. - Confessei pra eles que violei túmulos e queimei os corpos e disse que fiz isso para destruir as assombrações que estavam presas aos corpos. Isso é verdade, mas é claro que eles não iam acreditar, então me prenderam como se eu fosse doido. Logo eles encontraram outros, ahm, "crimes"... Encontraram as cabeças de vampiros que eu enterrei no quintal, enfim, e me classificaram como o cara mais perigoso do planeta.

 

Exagerou, meio emburrado com a situação. Na verdade só tinham o classificado como Serial Killer.

 

- Quando cheguei lá... Senti logo aquela coisa ruim no ar, a cadeia era amaldiçoada... E eu não podia fazer nada preso... Porque estavam me condenando à cadeia elétrica, eu ia morrer e não ia conseguir solucionar o caso, então pedi um padre pra me confessar, foi assim que Allan entrou na minha cela na noite anterior. Daí, Henry, o espírito que estava assassinando os presos, tentou me matar... Depois possuiu Allan... Nós conseguimos fugir da prisão... Por isso esses policiais todos atrás de nós. Roubamos uma kombi e as roupas dos médicos. - À medida que ele ia contando, ia começando a perceber a furada em que se meteram. Dio Santo! Não tinha percebido antes que tinha feito tanta coisa errada em poucos dias! - Eu levei Allan pra casa... Depois saímos pra invadir o cemitério e queimar o corpo de Henry. Descobrimos que o caixão está vazio, o corpo foi roubado de lá! Henry possuiu novamente o meu irmão aqui... E enquanto eu tentava exorcizá-lo, lançou nele uma maldição. Nisso, eu tive a BRILHANTE ideia de invocar um demônio que estivesse possuindo alguém nas proximidades, pra chantageá-lo e descobrir que maldição era. Então, ela conseguiu se soltar da armadilha, o capacho dela me possuiu, eu quase o enforquei... E paramos aqui no hospital depois. Isso é tudo.

 

Era tudo o que lembrava, mas desconfiava que haviam acontecido mais coisas... Como se tudo isso fosse pouco... Sua cabeça doía, mas tentava responder Miguel.

 

- Ele disse uma lingua estranha, eu não sei soletrar! Era... Legba... Ahmm... Veneficium, isso é latim, significa feitiço, ahm... - Fechava os olhos, tentando se lembrar. - ... Ah, eu não consigo... Papa Legba... Alguma coisa... Parece que estava chamando alguém que se chamava Legba... Eu já ouvi esse nome em algum lugar, só não estou lembrado.

 

Olhava de um pra o outro, atento. Então começou a escutar o plano de Miguel, na verdade, nem se surpreendeu, era uma boa ideia, simples e prática e na verdade ele já tinha feito isso antes. Concordava com a cabeça. Fingir-se de morto, ou morrer mesmo, acordar na sala Morgue e fugir. Ouviu Allan perguntar se era seguro e ele assentiu.

 

- Eu topo. Allan, não se preocupe. Vamos logo com isso. Eles vão entrar daqui a pouco.

 

Conrad tinha um segredo que talvez aqueles dois ainda não soubessem, mas um dia iriam saber e esse dia seria hoje. Ele simplesmente não podia morrer. Não dessa forma. Então não tinha medo de testar. Dobrou a manga da camisa e esticou o braço pra o outro injetar o veneno.

 

- Ahm... Eu não acho bom deixar ele sozinho, Miguel. Nada contra Allan... Mas ele já foi possuído umas 2 vezes só de anti-ontem pra hoje e... Pode estar mais vulnerável. Se tiver como deixar ele num lugar santo, sagrado, um templo, uma igreja, seria melhor.

 

Assim que recebeu aquela agulhada no braço, o padre desdobrou a manga da camisa. Olhou para os dois, dando os ombros.

 

- Ué não sinto n... - Revirou os olhos e capotou duro de vez, caindo da maca de cara no chão.

 

Sentiu aqueles choques... Aquela sensação estranha na barriga e quando abriu os olhos, estava de pé do lado de Miguel, vendo seu próprio corpo caído no chão, sendo carregado pelo médico pra a maca, vendo todo o plano ocorrer.

 

Em seu formato de espírito, ele não se parecia muito com o Conrad que Allan conhecia. Parecia um Conrad 40 anos mais velho, mais envelhecido, com uns 90 anos, a coluna encurvada, o corpo ainda mais magro e esquelético, a pele flácida, os cabelos grisalhos estragados e ressecados, compridos batendo nos ombros, a barba branca comprida até o queixo... E metade do rosto estava queimada, de forma que não tinha mais nem o olho esquerdo, apenas uma massa disforme em seu lugar. Já o lado direito do rosto estava normal, porém velho, e ainda assim parecia-se com ele se olhasse direito. Os olhos azuis por trás das rugas, as sobrancelhas. Se fizesse algum esforço, dava pra perceber que ali era Conrad.

 

Quando percebeu que estava fora, e que na porta trancada da sala onde estavam, Ezequiel o Arcanjo estava de braços cruzados olhando pra ele... Até os ombros abaixaram num suspiro pesado. Olhou seu corpo com pesar.

 

"Merda."

 

Estava morto. Algumas vezes, as imagens fugiam de si, como um sonho entrecortado, e de repente já não estava mais na sala de emergência, estava na sala Morgue junto a Allan e a Miguel.

 

Viu-se ao lado dos outros vários corpos mortos, das outras pessoas... Viu todo plano deles ocorrer como estava programado... Viu o homem tirar o antídoto do bolso a fim de ressuscitá-lo. E o franciscano sabia que isso não ia dar certo. Porque agora não tinha mais volta. Agora era o que Deus quisesse. Então, teve que abusar um pouco da vontade de seu amigo, mais do que já abusou antes. Se Allan não o tinha visto ainda... Então veria agora. Conrad se aproximou de Allan, enquanto Miguel preparava o antídoto, colocando as duas mãos no rosto do jovem e virando o rosto dele para si. A energia do espírito deu um leve choque, como se prendesse os dois pelas mãos e pelo rosto que as mãos seguravam, e naquele instante a face deformada e queimada do franciscano apareceu na sua frente, olhando com o único olho que tinha. Sua voz, enrouquecida e fantasmagórica ecoou como se fosse a voz de uma caverna, dentro da cabeça do padre.

 

"Não deixe eles me enterrarem, levem meu corpo com vocês!"

 

E o soltou, desaparecendo das vistas de Allan, antes que Miguel percebesse alguma coisa estranha.

 

2X16 - ALLAN

 

Miguel prestava atenção nas palavras do padre e vez ou outra olhava pra Allan. Como podia um homem só se enfiar em tanto problema como ele? passar um, dois meses sem nenhuma acidente e de repente lá estava o jovem Lion'sheart preso em alguma coisa que tinha que resolver e logo. Pelo que Conrad contava, aquela história era uma das piores depois do tragicante "morto" - quando sem saber Allan foi possuído por um espírito de um gangenster e acabou sumindo na cidade e dando o maior trabalho pra todo mundo. O franciscano parecia triste com aquilo tudo, como se sentisse que era culpa sua. Mas Miguel não via assim. Quem escolhia o caminho do bem sempre acabava sofrendo mais...

 

 

Pela cara de Allan, também não estava se sentindo bem. Os dois pareciam ter passado dias em claros. Estavam com hematomas, olheiras fundas e machucados. E tudo isso não faria nenhuma diferença se os dois já tivessem resolvido aquela pendenga e estariam livres pra ir embora, tomar um bom banho e descansar. O médico apertou os lábios enquanto ouvia a história e pensava em tudo isso. Já o padre mais novo, os olhava meio aéreo, estava perdido de novo e não sabia como resolver isso tudo. Então, o homem contou sobre o que poderia ser - "Legba" - e coincidentemente Dukìer já havia ouvido algo como aquilo. Em algum livro, levou a mão coberta pela luva até a testa pensando, sabia que já tinha ouvido aquela palavra. E então chutou: - Isso está me parecendo vodu. - Franziu o cenho, enquanto Allan levava as duas mãos até o rosto aparentemente desapontado com isso. Miguel deu uns tapinhas nas costas dele, tentando acalmá-lo. - Calma padre, nós vamos dar um jeito nisso. Se descobrirmos o que é, logo logo você está bem. - aquilo não era mentira, mas quando os olhos verdes do moço encontraram o de Conrad os dois sabiam o quanto de trabalho aquilo ia dar. O jeito era seguir com o plano.

 

Enchia o recepiente com a dosagem quase que fatal daquele liquido e também ouvia o alerta. Realmente, Allan era muito perigoso pra ficar assim ao relento e além do mais, no apartamento dele, aonde existiam tantas coisas amaldiçoadas. - Ok, você vai pra sua igreja então, padre. Nós de encontramos lá. - resolveu rápido, enquanto enfiava a agulha no lugar certinho levando apenas poucos segundos para o homem apagar. O outro se levantou meio atrapalhado, já preocupado com o amigo. - Ele vai ficar bem? - Miguel sorriu de leve. - Me ajude a colocar ele na maca direito. E vai, vai sim. - Os dois trabalharam em grupo pra dar o fora dali sem ninguém perceber. O jovem doutor era um mestre nos disfarces e o padre arrumou uma blusa de capuz. Não foi direto com ele para o nicrotério ou isso ficaria muita na cara; ficou enrolando ali no corredor e depois de algun minutos, seguiu pra sala morgue.

Net estava sozinho com ele ali. O homem parecia mortinho. Miguel o observou por alguns intantes, antes de levar um leve susto quando o padre entrou. O chamou pra perto com um gesto, enquanto pegava um vidro com o antidoto. - Seu amigo levou bem a sério o negócio de dar uma morridinha... - brincou, agitando o recipiente. - Se você quiser, pode ir indo pra igreja. Aliás nos estamos em um lugar cheio de gente morta. - Allan não entendeu a primeira frase de Miguel e então, aproximou-se mais pra ver o corpo de Conrad. - Como assim?? - perguntou, olhando atentamente.

 

O alemão torceu os lábios antes de responder. - Ele não tem pulso. - o padre arregalou os olhos. - NÃO TEM PULSO? VOCÊ O MATOU?! - gritou deixando o outro inquieto. - Psiuuuu, quer que eles nos ouçam? - o padre parecia desesperado, levou as mãos na cabeça antes de sentir um estranho xoque e então, ver o rosto velho de Conrad. Não se assustou de primeira, ouviu bem as palavras e só ai, se afastou rápido caindo por cima de uma das mesas de alumínio. Net o olhou meio irritado. - Qual o problema Allan?! quer nos entregar? - Allan estava ofegante e olhava para os lados. - Não, não... Conrad, ele, ele falou comigo, ele está morto mesmo! isso ai não vai adiantar... - disse rápido, se aproximando. - Não vai adiantar! - repetiu mais baixo, enquanto o médico olhava para os lados e tentava entender.

 

Tudo aconteceu muito rápido, mas o médium explicou e os dois trabalharam juntos novamente pra que tudo corresse bem. Tinham que juntar as duas coisas - proteger Allan e tirar Conrad dali pra que ele pudesse voltar. Foram pra igreja então e ficaram nos fundos. Era um tipo de porão com coisas antigas. Allan forrou o chão com um pano pra que colocassem o franciscano em cima. Depois de tudo feito, os dois ficaram o olhando com clemência. Até que o médium quebrou o silêncio. - E.. e se ele não voltar? - estava cheio de pesar na voz. Nem ele nem Miguel sabiam da maldição do colega e aquilo estava com cara de fim. Net ficou olhando sem nada dizer, e Allan sentou-se no chão olhando o corpo do amigo. 

 

Já estava tarde e seja lá o que fosse acontecer eles tinham que descobrir o que estava pra afligir o acólito. O médico o deixou ali protegido e segiu para se apartamento em busca dos livros que poderiam resolver aquele caso. Em algumas horas estaria de volta. 

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Presídio Estadual de Bayville, Estados Unidos da América

Henry Manfred, acusado de Assassinato.

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